quinta-feira, 24 de abril de 2008

O cotidiano e a Emoções.

[Antes do texto, engraçado citar que a quantidade de pessoas que comentam no blog diminuiu bastante. Ou eu devo ter incomodado muita gente com os Devaneios anti-conformistas, ou o quê. =P Só pra lembrar que isso aqui é um espaço público onde pessoas mostram suas idéias. Quem quiser discordar de mim, que fique à vontade. Eu não mordo... muito. ^^' Aos que ficaram e aos novos leitores, um imenso obrigado pela atenção e pelas idéias produtivas. Acho que já construimos um conhecimento legal aqui. Que isso continue. E, já que estou dentro dos colchetes, como diz thainah, queria dizer que essa conversa tá mais parecendo uma DR! E tenho dito!]

Assim que subi no ônibus notei uma discussão entre uma pessoa que se dizia estudante e o cobrador do ônibus. O tom alto e irritante de suas vozes ressoava na minha cabeça cansada: "eu sou estudante, porra!", dizia o homem. "Não me interessa o que você é, acontece que vocÊ precisa mostrar a carteira de estudante pra comprovar que esse aí é seu passe fácil". O homem insistia que era estudante e foi andando. Sentou Ao fundo, ainda resmungando, enquanto o cobrador também resmungava de lá da catraca. De repente, eles voltaram a se agredir moralmente. O suposto estudante, que não queria nem mostrar o passe fácil nem a carteira de estudante, mandou o cobrador ir estudar pra estar num emprego melhor, se ele estivesse achendo ruim. O cobrador retrucou que pelo menos ele trabalha, e chamou o suposto estudante de vagabundo e acousou-o de estar com um passe fácil de outra pessoa. As agressões verbais intensificaram-se e o estopim foi o cobrador chamar o suposto estudante de liso, que tava às 10 da noite pegando ônibus, criticando a possível pobreza e a índole do indivíduo. De repente, uma ou outra pessoa do ônibus lotado começava a mandar o cobrador calar a boca, e que já tinha sido resolvido o problema. Uma pessoa, um homem, foi mais agressivo: "cala essa boca, cobrador. o cara já passou. tem mais volta não." E o cobrador indignado, disse-lhe: "fica na tua". E o cara: "você quer criar algum problema comigo? Cala a boca!" E a galera do onibus deu um levante de voz contra o cobrador, que só estava seguindo a lei. É engraçado como a maior parte das pessoas se identificou mais com o infrator. O mais engraçado é como uma discussão entre duas pessoas provocou a emoção de outras e gerou tal levante. O cobrador foi ouvindo que iam ligar para a EMTU para reclamar dele até 5 minutos depois da confusão. E para o meu desprazer, um estudante de sociologia estava xingando o cobrador também. Mandando-lhe calar a boca e perguntando qual era o problema de se pegar ônibus às 10 da noite. Mais uma vez, levando o problema da discussão do cobrador com o infrator para si mesmo. Creio que como um estudante de sociologia, ele devia ter ficado quietinho e observado o que eu observei. Esse levante, essa reação coletiva que poderia ter acabado em violência física se continuassem a alimenta-la. Uma mulher interveio e disse: "deixa pra lá, gente. a gente liga pra EMTU e fica tudo resolvido. Não adianta falar com ele não."

Em toda confusão que eu presenciei até hoje na minha vida, esse padrão se repete. O agitador esquentadinho que toma as dores de um outro, que geralmente é culpado segundo a lei ou até segundo certas normas. Os motivadores, que se metem no assunto pra falar o que eles acham. Os bagunceiros, que terminam de levantar a geral que urra contra uma pessoa ou mais: de um fato individual a um fato social. Com aquela emoção de que o velho Durkheim tanto fala. A troco de quê? Bom, isso já é outro papo.

27 comentários:

T. Alvez disse...

é, meu amigo...nada mais que tribunais urbanos...
a regra da cidade nem sempre combina com moralidade.

asadebaratatorta disse...

o engraçado é que são semrpe as mesmas figuras, thainah. sempre os mesmos personagens. Até as frases me dão uma puta sensação de dejavù. Detalhe: o cara nem pediu nada ao cobrador. já foi enfiando ocartão. o cobrador ainda disse que se ele tivesse falado numa boa, tivesse pedido, a situação seria diferente. ou seja, até mesmo o cobrador, mais velho, aceitaria uma conduta desviante da lei se fosse pelos valores da velha cordialidade brasileira de que tanto fala o chato do daMatta. =P

T. Alvez disse...

nada como a educação...

Unknown disse...

"Dura lex sed lex"!
A lei é dura, mas é a lei! será que é? essa discussão é algo que levaria tempo, talvez eu até tivesse que fazer um post maior do que o do nosso amigo, falando e dando pontos de vistas diferentes sobre o assunto, mas vamos nos ater ao conteúdo exposto.

Me desculpem a forma de me expressar, mas tem algo que eu preciso dizer e direi:
O povo fode o povo... sempre foi assim e assim será sempre! O cobrador em questão foi desvalorizado por virtualmente pertencer a uma classe social menos favorecida que o tal estudante em questão. Para mim é inaceitável estes tipos de atitudes, um estudante, oras, ele deveria ser educado, afinal de contas teve a oportunidade de desenvolver seu intelecto, mas não é isso que vemos, o que podemos perceber é que a sociedade valoriza coisas superficiais, o homem que tentava seguir o que a lei lhe mandava fazer, foi criticado por outros que protegeram o infrator. Eu poderia afirmar com certeza que o estudante em questão estava absolutamente errado, caso contrario teria mostrado a bendita carteira de Estudante e tudo teria se resolvido, mas não, utilizou-se de sua arrogância, por achar que era superior a um trabalhador, superior a alguem que quis seguir a lei, quis trabalhar corretamente, infelizmente esse são os futuros cidadãos que guiaram nossa sociedade. Agora eu pergunto ao meu amigo sociologo... Onde esta o respeito ao proximo? Os pais de hoje em dia estão mais preocupados em suster seus filhos financeiramente, deixando de lado a velha e boa educação que eu recebi dos meus pais e avós!
O povo é que fode o povo... e tenho dito!

asadebaratatorta disse...

E vc pergunta isso a mim? respeito ao próximo nesse país se resume a alguns grupos sociais bem específicos. =P
Acho que vc expôs bem a questão normativa da coisa. Mas não podemos esquecer que não sabemos se o cara era um estudante ou não. Concordo com você quanto à questão de que tem algo errado com a educação em geral. Só não sei se dou o mesmo motivo a isso.
De qualquer forma, valeu pelo comentário e pela contribuição filosófica, jurista.

Abraço, cara. ^^

Unknown disse...

o fato em si não esta focado no lance o tal carinha ser ou não estudante, apenas é perceptivel sua intenção de burlar a obrigatoriedade da carteira de Estudante, talvez eu esteja sendo radical e o rapaz apenas tenha esquecido a CE(carteira de estudante), quantas vezes isso não aconteceu comigo? Inumeras, mas eu não agi da mesma forma, tentei negociar com o cobrador, normalmente eles negociam, eu entendi o fator social exposto por você, só que como minha area, apesar de tratar com o social, ser outra eu resolvi puxar a sardinha para meu lado =P

asadebaratatorta disse...

E fez bem. Já tem eu pra defende r o meu lado, né? ^^
É, e justamente o fato de eles negociarem já gera toda uma idealização, como eu comentei no segundo comentário daqui. Isso parece dizer respeito a uma prática cultural recorrente no país no século passado e que não foi extinta ainda. a "cordialidade contraventora". Outra: talvez haja algo errado com a legislação. Não sou a favor de dar dinheiro à UNE todo ano. Vc sabe como é, anda comigo. O comprovante de matrícula, uma carteirinha de outro ano ou um documento com foto e tava resolvido o problema. Melhor o controle. Funciona assim lá em BH, pelo menos em boa parte dos cinemas e tal. =P

Anônimo disse...

Só tem uma coisa pior que ler um blog: é ler os comentários do blog! Quanto ao "causo" que Rafael observou como um sociólogo bunda-mole, nhé, eu quero mais é ver sangue. E eu odeio estudantes, então o cobrador tava certo.

Girabela disse...

Concordo com Aerson, o rapaz até pode realmente ser estudante, mas provavelmente tava sem documentos que provassem isso. De qualquer forma, esse é o fato menos importante da discussão. O fato de que o cobrador foi completamente massacrado ao tentar cumprir as normas é realmente estranho. Não falo em dejavù, acho que são situações diferentes, além de que não acredito que os personagens sejam mesmo os mesmos. Pensarei sobre isso, boa reflexão. A observação desses pequenos fatos me agradam em muito.

asadebaratatorta disse...

Ah, gabi, eu acho que tem um padrãozinho no ar. =P Tem um troço de personagens no meio. As situações nunca serão sempre iguais, mas existe algo de comum, de muito comum nisso tudo. Não só as etapas desse processo como também o jogo dos estereótipos e o levante; só pr a fazer um levantamento rudimentar de possíveis coisas "gerais".
Uma boa análise dessa situação, que não foi a minha intenção aqui, levaria em conta vários pormenores também. Por exemplo, a hora em que ocorreu a confusão, o tipo de público que estava no onibus, a cor da pele... e Se a gente aprofundar tem mais. ^^'

Acho que foi Nietzsche que disse algo parecido com "a profundeza de tudo está na superfície da pele".
Não sei se é bem verdade, mas me faz pensar.

#MahWrites disse...

bem q dizem q no fundo no fundo tdo mundo tem uma estrutura perversa, nem q seja um poukinho... td mundo adora fugir das regras! xP ai ai ai... acontece... ;)
aline q naum me leia... ela me mata... ahuahuahuahuha xD

Unknown disse...

A educação tem passado longe. E mais uma vez eu acabo tropeçando na mesma pedra - o sentimento e a necessidade de superioridade q faz parte da grande maioria das pessoas - o pior de tudo, é q tem gente que diante de tudo isso ainda se acha certo!!! "A gente liga pra EMTU e fica tudo resolvido.Não adiante falar como ele não."
É ridículo!!!

máh, pra sua falta de sorte te li!!!hehehehe!!!

Xero moço!braços e abraços.
Flor ;*

Santiago. disse...

é meu amigo, isso se chama: BRASIL - o país do futuro!

isso é a regra da probabilidade, vivemos em um mundo a parte, mas a regra da aleatoriedade sempre está a nos rondar. Existem padrões sociais de comportamento, e, portanto, cedo ou tarde, eles se repetem. Cm vc bem lembrou, é um fato social. Ele existe, e se chama má socialização, má internalização das normas sociais, falta de educação, descaso social.. ou seja lá cm queira chamar!

viva a sociologia da vida cotidiana! viva josé de souza martins!

abraço velho.

Anônimo disse...

e o poeta maldito? só contemplou com sua visão precisa o fenômeno social? só fotografou pra depois levar a público, como sinal de olhar agudo?
somos todos rudes, querido.

asadebaratatorta disse...

É, rodrigo... Tem um monte de nomes pra essas coisas mesmo. Falta de educação, coisa assim. Também pode ser considerado falta de educação procurar criar uma polêmica sem se identificar. Bastante cômodo, até.

Como rodrigo ressaltou, é uma tentativa chula de se fazer sociologia do cotidiano esse post. Compartilha-se um espaço público como esse no intuito de fazer as pessoas que procuram ler pensarem, exercerem o raciocínio crítico. Há quem goste. Há como tirar algo proveitoso da conversa, algo que não se resume ao nosso ego, querido(a). Sobre a provável rudeza humana, gostaria de dizer que aprecio a sua; tanto quanto o seu sarcasmo bobo, mas não mais que a sua coragem. =)

Agradeço às pessoas que procuraram pensar o fato citado de maneira crítica e contribuiram de alguma forma para um tipo de debate; algo como uma tentativa de se construir coletivamente o conhecimento. Quem ainda não expressou sua opinião, mesmo que não seja relevante ao tema, que fique à vontade. =)

Anônimo disse...

calma la, poeta! tu, um amigo da sabedoria, confunde covardia com impessoalidade? acho que ficou claro que só não quero olhares tortos pela rua, porque isso não eh nada pessoal.
suspeito que o paralelo perfeito do anonimato eh o se encher de nomes. apostaria que estamos no mesmo barco.
sou inconveniente porque reafirmo: sua brincadeira só tem graça quando gera tapinhas nas costas. muito bem, só quis problematizar (e sem nenhuma ofensa ou lágrimas intestinas)
obrigada por cada palavra.

asadebaratatorta disse...

=D eu que agradeço. Tua questão foi interessante pra mostrar que o que eu tento fazer aqui não é só meio mundo de conversas fora. Nem só desabafos. Sobre tapinhas nas costas, não sei bem.=P Na verdade, nem gosto deles.
Se a preocupação fosse problematizar, certamente o seu discurso não seria invasivo nem direcionado à minha pessoa. Mas, ver você dizendo que seu desejo foi esse faz-me dar boas risadas.
Sobre se estamos ou não no mesmo barco, não me preocupo com olhares tortos no meio da rua. Nem preciso de uma identidade anonima pra dizer o que eu penso(muito embora não o diga nem sempre, nem com clareza). Tens algo a falar sobre o fato que coloquei aqui além de sofismas?
;**

prussiana disse...
Este comentário foi removido pelo autor.
prussiana disse...

por que todo mundo se enche de gramática pra discutir? e eu acho que o anônimo tem um ponto, o do 'só observar'.

Anônimo disse...

Com uma pitada de educação dos dois(e das pessoas que fizeram o levante,comentaram em assuntos que não lhes diziam respeito), tudo se resolveria num piscar de olhos! :]

asadebaratatorta disse...

Engraçado o que vocês entendem por "observar". "observar" e "provocar" não são exatamente a mesma coisa. =)
Como diz o outro, "quem cutuca será cutucado". Quanto à gramática, não tenho nenhum problema com ela e acho que o sr.(a) anônimo(a) também não; muito embora esse assunto tenha mesmo perdido a graça. =P

Um "observar" cordial, ou crítico, de uma perspectiva não pessoal, talvez não fomentasse uma resposta insatisfatória. =)

asadebaratatorta disse...

Tio Toni! hahaha
saudade, cara;D

Anônimo disse...

HAHAHAHAHA
:D
Esqueci de complementar...
Caso o estudante estivesse realmente liso, só sonseguisse pagar a passagem com o passe-fácil, garanto que ele teria alguma chance caso ele chegasse ao cobrador e dissesse:
Cobrador, teria como eu passar mostrando apenas o meu passe-fácil? eu esqueci minha carteira de estudante, e não tenho dinheiro para pagar a passagem! pode ver em minha carteira(*mostrando a carteira em mãos*)
pelo menos chance, ele teria!
caso não conseguisse, diante da impossibilidade de ir para casa, faria o "auê" dele XD
né? :)

Tamires disse...

odeio injustiças!
se td mundo tivesse ficado os dois também teriam calado alguma hora e todo mundo tinha ido pra casa sem escutar merda ¬¬
(o cara erra e ainda consegue simpatia como se tivesse certo ¬¬")

eu ja disse que adoooooorooooooo os seus colchetes? hauhauha
xero meu anjo ;)

asadebaratatorta disse...

eu roubei eles de thainah =)
Ela é a grande mentora disso tudo. =)

Marcolino disse...

Doooooooooc ^^
Saudade disto aqui ^.^

Vejamos:

Não acho que ficar rotulando as situações seja algo muito eficaz ou fiel à situação em si, mas, nesse caso, acho que cabe um dos rotótulos que considero válidos: o grande problema de tudo é o egocentrismo.

Instintivamente, as pessoas preocupam-se consigo mesmas, só levam em conta o seu ponto, nem lhes passa pela cabeça a situação do outro; quando muito - como acredito ter sido o que aconteceu no ônibus - sentem seu ego ferido e apressam-se em defendê-lo quando identificam-se com o caso de alguém.

Me atrevo a dizer que todos que cairam de pau em cima do trocador não o fizeram porque tinham algo contra o trocador, mas porque tinham algo a favor do coisinha-estudante lá; e também arrisco que não o estavam defendendo, mas estavam defendendo a si próprios, porque se viam na mesma situação do coisinha.

Parece-me que educação, moral, ética, certo/errado, bom senso e essas coisas todas que levariam a uma convivência agradável entre nós babuínos passam longe da cabeça do povo. Extremismos à parte - ou não, porque essa história do ônibus é um extremismo e nem muito extremo é -, isso tudo parece um "cada um por si e que Deus nos acuda".

Saudade disto aqui ²

^.^*

asadebaratatorta disse...

yeap =)
teoria interessante, marcolino ;D
poss dizer que concordo bastante com ela. Estava com saudade de vc tbm. ;D Apareça mais.
Abraço ^^