segunda-feira, 31 de dezembro de 2007

Ano Novo.

E lá estava eu: na rodoviária esperando a hora do ônibus sair. Queria ficar só, mas minha mãe não deixou. Não largou do meu pé até uma e vinte da tarde. De modo que não consegui escrever nem uma poesia. Mas isso não é bom nem mau. A agonia. Depois eu terei tempo de falar sobre ela. Na verdade eu não consigo lembrar da minha vida sem ela. Não é nada forte, ou nada direto. Ela costuma me afetar indiretamente, infiltrando-se sorrateira pelos cantos do meu peito. É onde dá para senti-la. Ela pulsa. Suas batidas diferem das do meu coração e ela quase o hipnotiza; quase faz ele bater segundo o seu ritmo. Ela parece um espelho imperfeito; uma penumbra que se movimenta livremente. Somos íntimos, mas não nos conhecemos ao certo. Sei que ela se alimenta e fica alegre com a felicidade. Ela deve se sentir muito sozinha. Como uma dor desejada foi a luz do sol que me encheu os olhos nesta tarde magnífica. As árvores secas na estrada. O capim cinza. A árvore prateada, sozinha, no meio daquele monte. as poucas folhas verdes nascentes. Uma clara visão da restauração, de Deus. Não há como narrar, descrever ou explicar aquele sentimento, aquelas idéias flamejantes. Eu perdi um pouco do meu sangue hoje. Pensei que eu derramaria todo ele naquela árvore só para vê-la brotar em mais folhas verdes. Depois, abraçaria seu tronco reluzente e de lá observaria o mundo e nada teria sido em vão. Eu sou Raphael. Desejo a vocês, meus queridos amigos, uma vida que valha a pena ser vivida. Lembrem que os anos não o são. Não há como aprisionar o tempo, nem há razão: ele é perfeito como nunca seremos. Feliz vida e que sintam o mesmo abraço que eu daria na árvore prateada. Pax

segunda-feira, 24 de dezembro de 2007

Feliz Natal

AD AMICOS

Em vão lutamos. Como névoa baça
a incerteza das coisas nos envolve.
Nossa alma em quanto cria, em quanto volve,
nas suas próprias redes se embaraça.

O pensamento, que mil planos traça,
é vapor que se esvai e se dissolve;
e a vontade ambiciosa, que resolve,
como onda em rochedos se espedaça.

Filhos do amor, nossa alma é como um hino
à luz, à liberdade, ao bem fecundo,
prece e clamor d'um pressentir divino;

mas num deserto só, árido e fundo,
ecoam nossas vozes, que o Destino
paira mudo e impassível sobre o mundo.



Antero de Quental.