segunda-feira, 29 de dezembro de 2008

Poemas

Opa! Aqui vai um post pra Manu! ^^
Esta que lê e não comenta, mas tão querida leitora. ^^ algumas poesias do doido do Quental. lá vai.


A Divina Comédia
(Ao Dr. José Falcão)




Erguendo os braços para o céu distante
e apostrofando os deuses invisíveis,
os homens clamam: "Deuses impassíveis,
a quem serve o destino triunfante,

Por que é que nos criastes?! Incessante
corre o tempo e só gera inextinguíveis,
Dor, pecado, ilusão, lutas horríveis
n'um turbilhão cruel e delirante...

Pois não era melhor na paz clemente
do nada e do que ainda não existe,
ter ficado a dormir eternamente?

Por que é que para a dor nos evocastes?"
Mas os deuses, com voz ainda mais triste,
dizem: "homens! Por que é que nos criastes?!"




Disputa em Familia I

Sai das nuvens, levanta a fronte e escuta
o que dizem teus filhos rebelados,
velho Jeová de longa barba hirsuta,
solitário em teus céus acastelados:

"Cessou o império enfim da força bruta!
Não sofreremos mais, emancipados,
O tirano, de mão tenaz e astuta,
que mil anos nos trouxe arrebanhados!

"Enquanto tu dormias impassível,
topamos no caminho a liberdade
que nos sorriu com gesto indefinível....

"Já provamos os frutos da verdade....
Ó Deus grande, Ó Deus forte, Ó Deus terrível,
Não passas d'uma vã banalidade!"


II


Ms o velho tirano solitário,
De coração austero e endurecido,
que um dia, de enjoado ou distraído,
deixou matar seu filho no calvário,

Sorriu com rir estranho, ouvindo o vário
tumultuoso coro e alarido
do povo insipiente, que atrevido,
erguia a voz em grita ao seu sacrário:

"Vanitas Vanitatum!(disse). É certo
que o homem vão medita mil mudanças
Sem achar mais do que o erro e o desacerto.

"Muito antes de nascerem vossos pais
D'um barro vil, ridículas crianças,
Sabia eu tudo isso... E muito mais!"

sexta-feira, 5 de dezembro de 2008

A caverna


I
Aqui estou: em minha caverna. Não sinto mais grilhões em meus pulsos. O sol, mesmo forte, não me cega mais. Meus tornozelos estão livres. Não há nada além de um turbilhão de cores evanescentes. Em minha caverna, sou capaz de enxergar tudo; e tudo que não enxergo, invento. Transformo. Muitas vezes, sem saber, construo. Minhas idéias são tudo o que tenho, e meus braços nada dizem além de "sim". Chamei minha caverna de mundo. De alguma forma, quando fecho os olhos, sinto uma dor. Uma agonia me toma; quer me deixar louco. As formas escuras me invadem e me torno, como creio, nada além do que vejo: a caverna.
Esta ilusão me persegue. Basta que me feche os olhos por um segundo e o mundo não está mais lá. Penso. Sonho. Vivo coisas inalcançáveis com os olhos fechados. Parece que não estou tanto mais em minha caverna. Meu próprio corpo já não importa tanto. Não me lembro de quando ele importou verdadeiramente. Ainda tenho crises. De loucura. à noite, ou com os olhos fechados. Apenas o que chamei de sonho me liberta. As idéias permanecem além de minha limitação. Meus olhos fechados vêem. Isso que chamo de mundo não é puro. A pureza precisa ser inalcançável e eu preciso viver em busca dela. Uma vez estive na caverna e saí. Agora, por ironia do maldito que escreve este texto, chamo meu mundo de caverna. O mundo que percebo. Devo viver de olhos abertos a vida inteira? No mundo da pureza, eu sinto que poderia captar tudo. Nada me escaparia. Mediria cada espaço em centímetros. Nunca fecharia os olhos. A paisagem sempre me agrada. Quero chamá-la 'paraíso'. Pois, em um fôlego só, se me fecham os olhos, nada tenho. No auge de minha imperfeição, esse preto que nada me diz, só pode ser o contrário do meu amado paraíso. Necessito controlar tudo. Preciso evitar o negro. Para aqueles ao meu redor que deixam de abrir os olhos, resta a terra. Coberto pela terra eu não poderia ver! A morte é... o inferno.
Gostaria que a ironia cessasse. Não mais suporto tal contradição. Preciso criar um meio rápido para alcançar o paraíso. Preciso crer. Assim como saí da caverna, eu posso sair da contradição. Porém, sempre que durmo ou acordo, sinto que algo me escapa. O maldito escritor deste texto teima em me pôr na caverna. Ele diz que eu nunca saí da minha caverna. Que, nas minhas próprias imagens, no mundo, eu nunca sairei da minha caverna. Oferece-me um espelho. Vejo a minha própria face. O essencial me escapa. Nunca consegui abandonar os meus próprios olhos...

II

Não! Esta não é a verdade! Não posso ser apenas uma percepção. Se assim fazem meus olhos, eles mesmos são imperfeitos! Meu corpo é pura podridão! Sou o pior dos escravos. Mas... Não posso ser apenas isso. Eu sonhei. Meus olhos... Estes já não me servem mais. Preciso, a partir destas grades, criar coisas que me façam ir além destes olhos. Algo de essencial me escapa. Porém, creio que posso ver coisas minúsculas com a clareza com que vejo esta imensa rocha. Algo de essencial me escapa. Não. Eu devo negar. Negar que estes olhos tocam o infinito. Criarei! Instrumentos! A partir de meus próprios olhos, provarei a mim mesmo que... que o mundo não é apenas isso. O mundo, a podridão do que conheci por vida. Nada disso está aos pés da pureza. Algo de essencial me escapa. Devo negar este mundo. Desbravar outro, por detrás do que estes olhos imperfeitos captam. Lá está a realidade. Algo de essencial me escapa. Já não importa mais. Adiquiri pares. Vi a lógica. Insistem em dizer que ela não estava "lá". MAS ELA É REAL! Eu não estou louco. Apenas um pouco eufórico. Eureka! Este mundo não passa da ponta de um iceberg de verdades deliciosas a serem desbravadas. NÃO! Algo de essencial me escapa. Eu preciso produzir este novo mundo que vi. Sinto que estou deixando a caverna. Meu próprio corpo já não importa tanto. Tenho a razão. A lógica. O cálculo. Posso ver muito além... Posso mesmo PREVER! ISSO É FANTÁSTICO! Algo de essencial... Devo sempre negar cada novo mundo que encontro! Sei que por detrás dele sempre haverá algo mais! Está lá! O maldito escritor deste texto tem cada vez menos poder sobre mim. Devo abandonar minhas antigas verdades. Devo buscar a novidade. A verdade sempre descansa por detrás de cada fato. Eu sou um fato. Penso, logo existo. O mundo é cinza. É ASSIM POR QUE EU VI! Mas, através de minhas ferramentas. Meus olhos não são tão confiáveis. Estou cada vez mais lúcido.... Estou cada vez mais longe de mim! Logo serei perfeito. Descobrirei todas as leis do universo. Descubrirei como calar este maldito escritor que teima que esse mundo não passa de uma anomalia que construí a partir da minha pórpria crença. Eu não estou delirando. Instrumentos não deliram. Qualquer um dos meus pares chegaria ao mesmo resultado: a verdade é uma só. Não poderei morrer. Mesmo que a terra me engula, esta não será a verdade. Minha marca sobre o mundo continuará com meu legado. Desvendarei verdades por toda a eternidade.

III

Não! Eu não estou louco! não me restam muitos prazeres, é claro. Mas a verdade supera todas elas. Descobri o mundo além do mundo e criei a mim mesmo diante do espelho. Algo de essencial me escapa. Sinto que o escritor cansou deste duelo. Ele não é mais capaz que eu. Antes de mim, vieram muitos. Estou aqui para dar continuidade. Com apenas um gesto, farei o mundo inteiro arder em chamas. Tudo tremerá! EU TENHO PODER SOBRE O MUNDO! Algo de essencial me escapa. MALDITO! MALDITO SEJA ESTE ESCRITOR! Ele me atormenta por tantos séculos. Ele me faz temer... NÃO! É assim por que eu vi. Os meus novos instrumentos são infalíveis. Isso é o progresso. Sei que amanhã terei instrumentos ainda melhores. Confio nos meus filhos. Ensino-lhes cedo a arte da verdade. Ela está sempre lá. Por detrás de cada página de livro que eu escrevo. Ela deve estar lá... em algum lugar.
O escritor parece cansado de narrar minha história. Eu não desistirei. Mesmo que eu morra, o progresso continuará. A ciência é a mãe de todos nós. Contra ela, um reles escritor nada pode fazer. ISSO NÃO É A VERDADE! Esta idéia é coisa do passado. É claro que posso ir além de mim. Claro que posso ver para além dos meus olhos. Algo de essencial me escapa. O escritor me diz que nunca verei além dos meus olhos. Que meus instrumentos de nada servem sem a imperfeição de minha própria carne. Diz que inventei e construi este mundo como está. Diz que eu o sujei! Que prepotência! Apenas o chafurdei, película por película. Metal, petróleo, urânio. Isso é o mundo. Descubro o mundo indo cada vez mais fundo. Mal posso esperar pela nova verdade que desvendarei. O mundo inteiro me amará. Eu sou perfeito. Está nos meus genes. Apenas a verdade me espera. Algo de essencial me escapa...

quarta-feira, 3 de dezembro de 2008

Dezembro




Disciple
(Written by Damian Wilson)
You will be my disciple
And you will learn my trade
You will only understand me when you come of age
Disciple of a prophet
That no one else has named
You will hold my spirit when the body's in the grave
And you'll learn the world has solved her problems on her own
And you may wake one day believing you're alone
But you'll never be alone
Fragile in your breathing
Omnipotent with age
Time can only measure what is left of life remains
Freedom's for the ignorant
Everyone is chained
Courtesy's acknowledgement that you are not afraid
And you'll learn the world has solved her problems on her own
And you may wake one day believing you're alone
But you'll never be alone
Blessed are men of charity
The wise are of their own
Be cautious with your judgement
For you never truly know
Pity on the privileged
For they have been betrayed
Follow truth and honesty and you will be repaid
And you'll learn the world has solved her problems on her own
And you may wake one day believing you're alone
But you'll never be alone
No, you'll never be alone
Pride is part of jealousy
It's ugly when defined
Strength is in the humble
And belief is in mankind
Your fervent heart is endearing
Your mind's as strong as man
The last of life is living in the soul where you began
And so learn, the world has solved her problems on her own
And you may wake one day believing you're alone
But you'll never be alone
No, you'll never be alone


(C) Damian Wilson 2008.


Pra quem passou por aqui, um abraço! ^^

terça-feira, 2 de dezembro de 2008

Ser ou não ser... A volta de Quental

Homo

Nenhum de vós certo me conhece
Astros do Espaço, ramos do arvoredo,
Nenhum adivinhou o meu segredo,
Nenhum interpretou a minha prece...

Ninguém sabe quem sou... e mais, parece
Que há dez mil anos já, neste segredo,
Me vê passar o mar, vê-me o rochedo
E me contempla a aurora que alvorece...

sou um parto da Terra monstruoso;
Do húmus primitivo e tenebroso;
Geração casual, sem pai nem mãe...

Misto infeliz de trevas e de brilho,
Sou talvez Satanás; talvez um filho
Bastardo de Jeová; talvez ninguém!


Antero de Quental.