segunda-feira, 29 de dezembro de 2008

Poemas

Opa! Aqui vai um post pra Manu! ^^
Esta que lê e não comenta, mas tão querida leitora. ^^ algumas poesias do doido do Quental. lá vai.


A Divina Comédia
(Ao Dr. José Falcão)




Erguendo os braços para o céu distante
e apostrofando os deuses invisíveis,
os homens clamam: "Deuses impassíveis,
a quem serve o destino triunfante,

Por que é que nos criastes?! Incessante
corre o tempo e só gera inextinguíveis,
Dor, pecado, ilusão, lutas horríveis
n'um turbilhão cruel e delirante...

Pois não era melhor na paz clemente
do nada e do que ainda não existe,
ter ficado a dormir eternamente?

Por que é que para a dor nos evocastes?"
Mas os deuses, com voz ainda mais triste,
dizem: "homens! Por que é que nos criastes?!"




Disputa em Familia I

Sai das nuvens, levanta a fronte e escuta
o que dizem teus filhos rebelados,
velho Jeová de longa barba hirsuta,
solitário em teus céus acastelados:

"Cessou o império enfim da força bruta!
Não sofreremos mais, emancipados,
O tirano, de mão tenaz e astuta,
que mil anos nos trouxe arrebanhados!

"Enquanto tu dormias impassível,
topamos no caminho a liberdade
que nos sorriu com gesto indefinível....

"Já provamos os frutos da verdade....
Ó Deus grande, Ó Deus forte, Ó Deus terrível,
Não passas d'uma vã banalidade!"


II


Ms o velho tirano solitário,
De coração austero e endurecido,
que um dia, de enjoado ou distraído,
deixou matar seu filho no calvário,

Sorriu com rir estranho, ouvindo o vário
tumultuoso coro e alarido
do povo insipiente, que atrevido,
erguia a voz em grita ao seu sacrário:

"Vanitas Vanitatum!(disse). É certo
que o homem vão medita mil mudanças
Sem achar mais do que o erro e o desacerto.

"Muito antes de nascerem vossos pais
D'um barro vil, ridículas crianças,
Sabia eu tudo isso... E muito mais!"

sexta-feira, 5 de dezembro de 2008

A caverna


I
Aqui estou: em minha caverna. Não sinto mais grilhões em meus pulsos. O sol, mesmo forte, não me cega mais. Meus tornozelos estão livres. Não há nada além de um turbilhão de cores evanescentes. Em minha caverna, sou capaz de enxergar tudo; e tudo que não enxergo, invento. Transformo. Muitas vezes, sem saber, construo. Minhas idéias são tudo o que tenho, e meus braços nada dizem além de "sim". Chamei minha caverna de mundo. De alguma forma, quando fecho os olhos, sinto uma dor. Uma agonia me toma; quer me deixar louco. As formas escuras me invadem e me torno, como creio, nada além do que vejo: a caverna.
Esta ilusão me persegue. Basta que me feche os olhos por um segundo e o mundo não está mais lá. Penso. Sonho. Vivo coisas inalcançáveis com os olhos fechados. Parece que não estou tanto mais em minha caverna. Meu próprio corpo já não importa tanto. Não me lembro de quando ele importou verdadeiramente. Ainda tenho crises. De loucura. à noite, ou com os olhos fechados. Apenas o que chamei de sonho me liberta. As idéias permanecem além de minha limitação. Meus olhos fechados vêem. Isso que chamo de mundo não é puro. A pureza precisa ser inalcançável e eu preciso viver em busca dela. Uma vez estive na caverna e saí. Agora, por ironia do maldito que escreve este texto, chamo meu mundo de caverna. O mundo que percebo. Devo viver de olhos abertos a vida inteira? No mundo da pureza, eu sinto que poderia captar tudo. Nada me escaparia. Mediria cada espaço em centímetros. Nunca fecharia os olhos. A paisagem sempre me agrada. Quero chamá-la 'paraíso'. Pois, em um fôlego só, se me fecham os olhos, nada tenho. No auge de minha imperfeição, esse preto que nada me diz, só pode ser o contrário do meu amado paraíso. Necessito controlar tudo. Preciso evitar o negro. Para aqueles ao meu redor que deixam de abrir os olhos, resta a terra. Coberto pela terra eu não poderia ver! A morte é... o inferno.
Gostaria que a ironia cessasse. Não mais suporto tal contradição. Preciso criar um meio rápido para alcançar o paraíso. Preciso crer. Assim como saí da caverna, eu posso sair da contradição. Porém, sempre que durmo ou acordo, sinto que algo me escapa. O maldito escritor deste texto teima em me pôr na caverna. Ele diz que eu nunca saí da minha caverna. Que, nas minhas próprias imagens, no mundo, eu nunca sairei da minha caverna. Oferece-me um espelho. Vejo a minha própria face. O essencial me escapa. Nunca consegui abandonar os meus próprios olhos...

II

Não! Esta não é a verdade! Não posso ser apenas uma percepção. Se assim fazem meus olhos, eles mesmos são imperfeitos! Meu corpo é pura podridão! Sou o pior dos escravos. Mas... Não posso ser apenas isso. Eu sonhei. Meus olhos... Estes já não me servem mais. Preciso, a partir destas grades, criar coisas que me façam ir além destes olhos. Algo de essencial me escapa. Porém, creio que posso ver coisas minúsculas com a clareza com que vejo esta imensa rocha. Algo de essencial me escapa. Não. Eu devo negar. Negar que estes olhos tocam o infinito. Criarei! Instrumentos! A partir de meus próprios olhos, provarei a mim mesmo que... que o mundo não é apenas isso. O mundo, a podridão do que conheci por vida. Nada disso está aos pés da pureza. Algo de essencial me escapa. Devo negar este mundo. Desbravar outro, por detrás do que estes olhos imperfeitos captam. Lá está a realidade. Algo de essencial me escapa. Já não importa mais. Adiquiri pares. Vi a lógica. Insistem em dizer que ela não estava "lá". MAS ELA É REAL! Eu não estou louco. Apenas um pouco eufórico. Eureka! Este mundo não passa da ponta de um iceberg de verdades deliciosas a serem desbravadas. NÃO! Algo de essencial me escapa. Eu preciso produzir este novo mundo que vi. Sinto que estou deixando a caverna. Meu próprio corpo já não importa tanto. Tenho a razão. A lógica. O cálculo. Posso ver muito além... Posso mesmo PREVER! ISSO É FANTÁSTICO! Algo de essencial... Devo sempre negar cada novo mundo que encontro! Sei que por detrás dele sempre haverá algo mais! Está lá! O maldito escritor deste texto tem cada vez menos poder sobre mim. Devo abandonar minhas antigas verdades. Devo buscar a novidade. A verdade sempre descansa por detrás de cada fato. Eu sou um fato. Penso, logo existo. O mundo é cinza. É ASSIM POR QUE EU VI! Mas, através de minhas ferramentas. Meus olhos não são tão confiáveis. Estou cada vez mais lúcido.... Estou cada vez mais longe de mim! Logo serei perfeito. Descobrirei todas as leis do universo. Descubrirei como calar este maldito escritor que teima que esse mundo não passa de uma anomalia que construí a partir da minha pórpria crença. Eu não estou delirando. Instrumentos não deliram. Qualquer um dos meus pares chegaria ao mesmo resultado: a verdade é uma só. Não poderei morrer. Mesmo que a terra me engula, esta não será a verdade. Minha marca sobre o mundo continuará com meu legado. Desvendarei verdades por toda a eternidade.

III

Não! Eu não estou louco! não me restam muitos prazeres, é claro. Mas a verdade supera todas elas. Descobri o mundo além do mundo e criei a mim mesmo diante do espelho. Algo de essencial me escapa. Sinto que o escritor cansou deste duelo. Ele não é mais capaz que eu. Antes de mim, vieram muitos. Estou aqui para dar continuidade. Com apenas um gesto, farei o mundo inteiro arder em chamas. Tudo tremerá! EU TENHO PODER SOBRE O MUNDO! Algo de essencial me escapa. MALDITO! MALDITO SEJA ESTE ESCRITOR! Ele me atormenta por tantos séculos. Ele me faz temer... NÃO! É assim por que eu vi. Os meus novos instrumentos são infalíveis. Isso é o progresso. Sei que amanhã terei instrumentos ainda melhores. Confio nos meus filhos. Ensino-lhes cedo a arte da verdade. Ela está sempre lá. Por detrás de cada página de livro que eu escrevo. Ela deve estar lá... em algum lugar.
O escritor parece cansado de narrar minha história. Eu não desistirei. Mesmo que eu morra, o progresso continuará. A ciência é a mãe de todos nós. Contra ela, um reles escritor nada pode fazer. ISSO NÃO É A VERDADE! Esta idéia é coisa do passado. É claro que posso ir além de mim. Claro que posso ver para além dos meus olhos. Algo de essencial me escapa. O escritor me diz que nunca verei além dos meus olhos. Que meus instrumentos de nada servem sem a imperfeição de minha própria carne. Diz que inventei e construi este mundo como está. Diz que eu o sujei! Que prepotência! Apenas o chafurdei, película por película. Metal, petróleo, urânio. Isso é o mundo. Descubro o mundo indo cada vez mais fundo. Mal posso esperar pela nova verdade que desvendarei. O mundo inteiro me amará. Eu sou perfeito. Está nos meus genes. Apenas a verdade me espera. Algo de essencial me escapa...

quarta-feira, 3 de dezembro de 2008

Dezembro




Disciple
(Written by Damian Wilson)
You will be my disciple
And you will learn my trade
You will only understand me when you come of age
Disciple of a prophet
That no one else has named
You will hold my spirit when the body's in the grave
And you'll learn the world has solved her problems on her own
And you may wake one day believing you're alone
But you'll never be alone
Fragile in your breathing
Omnipotent with age
Time can only measure what is left of life remains
Freedom's for the ignorant
Everyone is chained
Courtesy's acknowledgement that you are not afraid
And you'll learn the world has solved her problems on her own
And you may wake one day believing you're alone
But you'll never be alone
Blessed are men of charity
The wise are of their own
Be cautious with your judgement
For you never truly know
Pity on the privileged
For they have been betrayed
Follow truth and honesty and you will be repaid
And you'll learn the world has solved her problems on her own
And you may wake one day believing you're alone
But you'll never be alone
No, you'll never be alone
Pride is part of jealousy
It's ugly when defined
Strength is in the humble
And belief is in mankind
Your fervent heart is endearing
Your mind's as strong as man
The last of life is living in the soul where you began
And so learn, the world has solved her problems on her own
And you may wake one day believing you're alone
But you'll never be alone
No, you'll never be alone


(C) Damian Wilson 2008.


Pra quem passou por aqui, um abraço! ^^

terça-feira, 2 de dezembro de 2008

Ser ou não ser... A volta de Quental

Homo

Nenhum de vós certo me conhece
Astros do Espaço, ramos do arvoredo,
Nenhum adivinhou o meu segredo,
Nenhum interpretou a minha prece...

Ninguém sabe quem sou... e mais, parece
Que há dez mil anos já, neste segredo,
Me vê passar o mar, vê-me o rochedo
E me contempla a aurora que alvorece...

sou um parto da Terra monstruoso;
Do húmus primitivo e tenebroso;
Geração casual, sem pai nem mãe...

Misto infeliz de trevas e de brilho,
Sou talvez Satanás; talvez um filho
Bastardo de Jeová; talvez ninguém!


Antero de Quental.

domingo, 23 de novembro de 2008

Bergson

“A ação não pode
mover-se no irreal. Uma mente nasce para especular ou
para sonhar, admito, deve permanecer fora da realidade,
deve deformar ou transformar o real, talvez até criá-lo –
como criamos figuras de homens e animais que nossa
imaginação recorta das nuvens que passam. Mas um
intelecto que dobra o ato a ser atuado e a reação que se
segue, sentindo seu objeto enquanto capta sua impressão
de movimento a cada instante, é um intelecto que toca
algo do absoluto”

Bergson, página onze de "A evolução Criadora"

Diálogo com pragmatistas? anti-Kantismo?
=P

sexta-feira, 14 de novembro de 2008

Para eleger uma só verdade, criou-se a fábula do não-ser.
Para condenar uma só mentira, deu-se a todas as outras a lib(v)erdade.

domingo, 9 de novembro de 2008

Cotidiano - ?

Hoje aconteceram algumas coisas engraçadas. Eu tava tentando estudar desde dez e meia da manhã, mas estavam comemorando o aniversário do meu tio aqui, e a pirralhada estava toda presente. Barulho de menina gritando, de garrafas pet sendo batidas contra a parede; as músicas bregas e suas letras maravilhosas. O cheiro ruim de carne no ar...
Sim, ou meljor, não. Eu não estava me divertindo.
Porém, por alguma razão mística, apareci no quintal de casa. O que vi? Meu primo de 6 anos, Danilo, jogando pedras num gato que estava em cima da cisterna, do lado de cá do muro. Quando ele preparava a terceira pedra, me aproximei e disse em tom questionhador:
- Danilo, por que você está jogando pedra no gato? - no mesmo instante, ele largou a pedra no chaõ e ficou pensativo. O gato terminou de fugir. Eu insisti, enquanto ele virava os olhinhos pra dentro de si: - por que?
E ele respondeu: - é por que ele pulou. Ele pulou pra cá!
E eu: - Sim, e o que é que tem ele pular pra cá?
E ele: - ele veio pra cá fazer cocô...
Eu: - e o que é que tem ele fazer cocô na terra?
Ele: - por que eu vou pisar no cocô sem ver...
Eu: - certo. mas se você pisa no cocô sem ver, a culpa é do gato?
(silêncio)
Eu: - se o gato faz cocô na areia, você não presta atenção onde pisa e pisa no cocô do gato, quem é o besta da história? - Ele, com cara de contrangido, e era visível na face dele, tentava me dizer algo.
Eu: - você... você é o besta da história! - e ele, depois de alguns segundos, ainda olhando pra dentro de si, repetiu:

- eu sou o besta. E então, fez uma cara esquisita e saiu correndo.

=P

Interessante...

domingo, 26 de outubro de 2008

Vertigem - ou o que é "ciência social"

Imagine-se dentro daquele ônibus lotado. Pessoas se espremendo, em pé, sentadas. Chove e faz calor: as janelas fechadas. Você lá no fundo, na última cadeira à direita. A respiração é difícil. Pesada. Pense em sua casa, seus caminhos para a faculdade, para o trabalho... Você indo e vindo. Imagine seus problemas e... Olhe ao redor. Imagine que todas essas pessoas também possuem suas próprias vidas. Que elas não estão lá para figurar um filme que você protagoniza. Aquela mulher de cabelos negros, blusa branca e jeans. Ela também pode ter uma mãe, um amigo, um problema. Aquela pessoa sofre, assim como você. Imagine o tamanho da bola de sofrimento que este ônibus carrega. Imagine a potência da alegria que lhe é possível. Um poço de indiferença que começa nos seus olhos e não se encerra em você. Os olhares cruzam, mas é como se ninguém estivesse verdadeiramente ali. A presença... O vazio. Tudo.
Pense que muitas daquelas pessoas podem lhe ser hostis; causar dor. Mas elas não devem ser assim com todo mundo. Elas cometem crimes hediondos, praticam uma conduta deplorável ou mesmo conseguem manter-se coerentes. Ainda têm ou tiveram mãe, pai... alguém de quem elas pudessem gostar e que gostassem delas também. É possível que algumas pessoas possam machucar muita gente, mas nunca machucariam uma ou duas pessoas em especial. Por que isso ocorre?

Outra pessoa se jogou do alto de um prédio. Muitas pessoas puderam ver o seu sangue. As aulas pararam? O sangue parou no asfalto, assim como o corpo sem vida. Teorizaram, confabularam. Alguns passaram mal, outros não quiseram olhar para baixo e ver a mancha de sangue. Alegaram sensibilidade. Não duvido. 10 minutos depois estávamos confabulando sobre os problemas da América Latina. O fato é que eu me senti mesmo como o que li no prefácio do livro do Afonso, que tem uma parte de uma carta do Henfil.
Uma pessoa teve o crânio esmagado. A vida continua. As pessoas continuam comprando, comendo, bebendo, conversand ou namorando naquele mesmo parque. Lavado tantas vezes, mas carregado do mesmo cheiro de sangue.
E o que eu tinha de mais importante pra dizer se perdeu outra vez....

domingo, 5 de outubro de 2008

O Sol...e Nós

Ele vai e volta o tempo inteiro. O que é que muda além da nossa contagem de dias? Muita coisa, né?
Este sol... é o sol, ou somos nós? Ele é você? Eu? E se ele não estivesse lá quando foi tirada a foto? E se nós não estivéssemos aqui, agora, nesta página de blog? Que seria do "sol"? Que seria de "nós"? Talvez, entre "Nós" e "Ele" haja um elo, um fio fino como uma borda de ouro de porcelana e forte como uma montanha. Algumas pessoas nomearam este elo de Consciência.

sábado, 20 de setembro de 2008

[As chuvas de janeiro começaram. Elas caem impiedosamente, lavando as árvores e a terra. Por caírem em janeiro, elas me dão de novo a maldita idéia de ciclo. A serpente esfomeada que come a própria cauda. A água enche as ruas e os canais fétidos transbordam: pouco a pouco, nos alagados, florescerão peixes coloridos que desaparecerão no porvir do sol que evapora tudo. restará o mesmo pó; o pó sujo das águas poluídas que fazem brotar os mesmos peixes coloridos. E dos corações, alagados, cheios de uma coisa que não cessa de partir... Talvez reste também o pó; a poeira das verdades que não estão mais lá.]

Sim, Tutu. Pra quem não tinha entendido antes, no pó também se encontram sementes. É muito interessante poder ler nossas coisas antigas, né? Fico contente de naqueles momentos eu ter exposto tais coisas, e ter refletido de forma tão interessante sobre elas; e pelo simples fato de as pessoas terem lido e refletido também! Sinto alguma falta disso agora, que não disponho de tanto tempo livre. Longe de estar vazio. E sim, por um lado, é como se as sementes começassem a brotar e algo novo a surgir. Algo que de novo parece mesmo não ter nada. A novidade é cada dia que passa. Às vezes é importante contemplar isso. Sinto vontade de publicar aqui mais um escrito de janeiro. Mas antes, eu queria agradecer a Flor pelo tempo mais suave e mais intenso que pude passar até então. De relógio são um pouco mais que 4 meses. Já? Ainda?
enfim... Espero que Rodrigo leia e comente sobre. Há tempos que ele me deve um escrito sobre o meu escrito:


"Dizem que se olho bem à frente, daqui do alto deste edifício, acima, buscando o horizonte, posso ver o mar. Vejo-o bem à minha frente: verde-azul flamejante, que vai e vem. Porém, se não vejo tão distante, se não procuro pela superioridade de sua existência, abaixo do edifício, a caminho terreno do oceano, entre as avenidas repousa o canal. Não sei dizer ao certo sua cor. Quanto mais perto de mim fica o meu olhar, quanto mais limitado, menos do mar verde-azul eu consigo captar. Qual das visões é a verdadeira?
Os ônibus passam cheios de pessoas. as ruas cheias de pessoas. O que são essas faces? Não compreendo. Faces, interagindo umas com as outras e com a pele crua da realidade, a ponta do iceberg que há milênios parece furar-nos os olhos. O que há?
Face de raiva por causa do ônibus. Não. Por causa do motorista de ônibus que acaba dequeimar a parada. A moça esbraveja, gesticula... ela parece não estar ali. É engraçado... Nesses instantes, para eles - as pessoas -, é como se não houvesse "mundo", e muito menos "eu". Tudo parece girar em torno dos seus desejos sem controle. Eles tornam-se sua própria imagem. Em poucos segundos... Até que voltam as faces. No instante tempestuoso da alma humana, o que está nos olhos chorosos e que não se sente, o que está na dor, na alegria, na esperança: a chave da incompreensão. É como se não percebessem, de fato. O quanto não são por seu puro e simples desejo de ser. Durante a mínima fração de tempo desmascarada, não sabem que são. São; diferente dos seus próprios desejos, do "mundo", de eu, você, mim, nós e eles. Mas não. Facilmente confundem desejo e vontade; perdem a consciência de si em troca de... É preciso transcender a isso. Se não, pouco a pouco, não haverá mais "mundo". Não haverá mais eu, você, ele... Nós."



10 de janeiro, 2008.

sexta-feira, 5 de setembro de 2008

(Lao Tsé; Tao Te Ching) - Trad. Albe Pavese (Ed. Madras)

Verso 38 - SOBRE AS VIRTUDES

O homem de Virtude Superior não está preocupado com sua virtude porque ele é virtuoso.
O homem comum fica preocupado com suas virtudes porque não é virtuoso.
O Sábio parece que nada faz pois permanece na não-ação.
Certamente nada fica sem ser feito.
O homem inferior se movimenta muito e certamente deixa de realizar o essencial.
A Benevolência precisa atuar mesmo sem objetivos.
A Justiça precisa atuar e procura um objetivo.
O Dogma precisa atuar através da observação e a força para submeter os homens.
Por isso quando o Tao se perde, aparece a virtude.
Quando a virtude se perde, aparece a benevolência.
Quando se perde a benevolência aparece a Justiça.
Quando a Justiça se perde, aparecem os dogmas e o moralismo.
Os dogmas e o moralismo são a casca da fidelidade e da lealdade e o começo da confusão.
Os adivinhos e falsos profetas são a aparência do Tao e o começo da estupidez.
Por isso o Sábio conserva-se na Infinita Profundidade e não na superfície.
Habita no fruto e não na flor.
Vive no ser, e não na aparência.

quarta-feira, 3 de setembro de 2008

[por que pelo menos eu posso postar coisas interessantes de se ler =P]

"Se eu faço unicamente o meu e tu o teu
corremos o risco de perdermos
um ao outro e a nós mesmos.

Não estou neste mundo para preencher tuas expectativas
Mas estou no mundo para me confirmar a ti
Como um ser humano único para ser confirmado por ti
Somos plenamente nós mesmos somente em relação um ao outro

Eu não te encontro por acaso
Te encontro mediante uma vida atenta
em lugar de permitir que as coisas
me aconteçam passivamente

Posso agir intencionalmente para que aconteçam
Devo começar comigo mesmo, verdade
mas não devo terminar aí:
a verdade começa a dois."

Frederick Perls

Geladeira

E o blog foi pra geladeira. Que triste. Apesar de todas as boas intenções, de idéias do que escrever e etc e tal... Por enquanto, não devo postar nada além de vídeos ou poemas =P
Mas, logo retomarei as discussões por aqui. =P

domingo, 3 de agosto de 2008

Algo pra escrever

Encontrei algo pra escrever! bom, vou estudar e assim que tiver tempo escrevo. Vou escrever sobre os Emos e as leis Anti-Emo e o comportamento de outros grupos em relação a eles. Tema relevante. Espero não demorar muito pr a sair. Ou, nunca saia, como a entrevista com uma pessoa que teve o primeiro contato depois de seis meses de sociologia no ensino médio.
=P

lo

terça-feira, 29 de julho de 2008

Voltei, hellsífilis.

Não foi a saudade, mas o trabalho, que me trouxe pelo braço. Senti falta de postar, é fato. Porém, mais uma onda de tempo vazio. Não pense que, como em tempos de pouca vivência irrefletida e fartura intelectual, estas linhas possam acabar como uma filosofia de vida bonitinha e aplaudível. 10 dias longe desse lugar quente. 10 dias de... Com certeza, alguns dos meus melhores dias de minha longa vida. Gostaria, durante esse post, de usar o termo egoísmo. Talvez não queria falar do mundo, ou meus acessos de exibicionismo diminuiram. Nossa, isso bem que poderia ser uma confissão, não é? Ou será que não passa de uma brincadeira para os que realmente acreditam? Uma cilada semântica, um contexto que levaria alguns a aceitar sem questionar o que aí está. Então, confissão minha ou dos que crêem? Esse joguinho não importa tanto agora, embora provoque longas e mórbidas risadas.
Conheci um cara durante a viagem. E não, não vou ficar falando da minha experiencia maravilhosa com Flor. Vou falar só de um cara de quem eu já tinha ouvido falar. O tal do Fritz. Vira e mexe o tempo doido e eu sempre caio no poço da consciência. Sinto que preciso resgatar algo de lá. E isso não tem necessariamente a ver com o mundo, por isso, eu, eu e mais eu. Só isso importa aqui nessas linhas. Como está no post do meu amigo Arthur, -by the way, parabéns pela coragem ou pela falta de tempo para construir um blog!-, às vezes eu sinto falta da consciência como algo encarado com certa seriedade teórica. E, também, assim como o Fritz diz, que se foda. Bom, é isso. hora de estudar os moços que gostavam da consciência. Quanto a Fritz, foi um encontro super interessante, seu facínora. Volto ao seu livro/lata de lixo assim que puder.
Necessidade de artifícios conclusivos. Só por causa disso,




fui.

quinta-feira, 17 de julho de 2008

Preguiça

E, novamente, apaguei as 7 linhas digitadas e [não] postei. =P

^^'

Opa. Estou alterando o post! =P
Só quero acrescentar que nesses mares de objetividade tenho sentido falta de Qüen e dos delírios yang. =p Porém, vamos aproveitar.

O fluxo.

Bandeira:

A Realidade e a Imagem


O arranha-céu sobe no ar puro lavado pela chuva
E desce refletido na poça de lama do pátio.
Entre a realidade e a imagem, no chão seco que as separa,
Quatro pombas passeiam.


Belo Belo - Manuel Bandeira.


AAAHH!, o melhor:


Namorados.


O rapaz chegou-se para junto da moça e disse:
- Antônia, anda não me acostumei com seu corpo, com sua cara.

A moça olhou de lado e esperou.

- Você não sabe quando a gente é criança e de repente vê uma lagarta listrada?

A moça se lembrava: - a gente fica olhando....
A meninice brincou de novo nos olhos dela.

O rapaz prosseguiu com muita doçura:

-Antônia, você parece uma lagarta listrada.

A moça arregalou os olhos, fez exclamações.

O rapaz concluiu:
- Antônia, você é engraçada! Você parece louca.


Libertinagem -Manuel Bandeira.

quarta-feira, 11 de junho de 2008

Enquanto isso, no Brasil...

Após 90 minutos de exaustão, tensão e nervosismo, o Sport venceu os arruaceiros corinthianos por 2 a 0, contrariando o pobre Kléber Machado, que a cada gol do time pernambucano, poupava sua garganta corinthiana com um grito de gol inexpressivo. Foi divertido. Os corinthianos cederam 900 ingressos aos rubro-negros lá em são paulo e, quando receberam o mesmo número de ingressos aqui, resolveram protestar nas ruas. A cidade estava tensa. A universidade federal, vazia. Parece que pouca gente pensa lá dentro mesmo... Pra quê pensar num dia como ontem? O governador pediu e o Sport cedeu mais ingressos aos arruaceiros. Divertido também. Mais gente viu a malícia do jogador do corinthias, que foi expulso no seu primeiro lance. O que os torcedores do Sport, no estádio, não viram: a imensa quantidade de microfones na 'geral' do corinthias e as legendas para seus cânticos bregas. Isto, meus caros, é Política. Duas mil pessoas não fazem mais barulho que 28 mil. A não ser que utilizem os microfones da globo 'nacional' , é claro. Novamente, muito divertida foi a situação. Eu poderia continuar falando de relações de poder regionais, mas...

O engraçado é que, na câmara dos deputados, aprovou-se um novo imposto, o CSS, que, na verdade, se assemelha ao enterrado(?) CPMF. O que este fato muda em nossas vidas, enquanto cidadãos? Alguns radicais associam o futebol ao bom e velho pão-e-circo. Não creio que seja assim tão simples. A massiva onda de um pernambucanismo enche muitas pessoas de orgulho, reconhecimento, satisfação. Isto indica algo positivo em uma região que sofre para se desenvolver, mas sem a dramaticidade de um jogador do Sport que falou ao jornal da tarde que "um povo sofrido merece o título". Isso me cheira a um estereótipo bem tradicional e conhecido nacionalmente. Há uma imagem em jogo. Futebol tem dessas coisas. Suscita vários temas. Também não é sobre imagem social que eu quero falar aqui. Vamos continuar com o papo da cidadania.

O futebol é uma das manifestações públicas mais importantes, em termos quantitativos, do país. Este é um fato que, se partimos de uma postura normativa da vida social, não necessita mudar. É mesmo uma febre que me lembra Durkheim. Eu poderia falar de Nobert Elias, que trouxe grandes contribuições à sociologia dos esportes como um todo, relembrando meu breve momento enquanto estudante vinculado ao Nucleo de Estudos em Sociologia do Futebol, na UFPE.Isso é importante para uma sociologia brasileira "que veste a camisa", porém, deixemos de lado. O que eu quero perguntar: por que em praticamente todos os fins de semana do ano lotamos estádios para ver jogos de futebol, e, no entanto, pouco nos mobilizamos para reivindicar questões práticas da nossa política? Não me entendam mal. Tal pergunta não é feita de maneira ingênua. A vocês que, imediatamente, elaboraram uma resposta que já parecia estar pronta, peço que estudem-na com cuidado. Usem a racionalidade inteligente, diferente da maquininha que busca mais prazer e menos dor. Eu mesmo, dentro de minha atitude natural da academia, possuo uma resposta pronta à qual necessito criticar. Sejamos atentos. Como podemos pensar em cidadania? Cabe-nos analisar tal fato segundo uma dialética negativa, que analisa, critica e nunca nos traz uma resposta satisfatória além do apocalipse? Existe o SUS. Existe, há alguns anos, eleições de diretoras nas escolas municipais do recife, fato que pretendo estudar num provável mestrado ou doutorado. Vários espaços estão sendo criados. É preciso estar atento a eles e utiliza-los com a sabedoria que vejo em minha mãe, uma educadora bem diferente do convencional. Um time de pouco status nacional venceu ontem. Nós, os sujeitos, não estamos mortos, nem somos calculadoras de prazer e dor. Isso pode ser mais um discurso. Pode ser mais uma tentativa frustrada de fazer pessoas pensarem a partir de suas consciências. Isso pode até ter vários nomes. Que seja. Isso não me importa.

[chocolate sabor asadebaratatorta]

terça-feira, 10 de junho de 2008

Beneath The Waves

[Nada a declarar. De resto, pra quem gosta, curtam essa óprea progressiva num clipe muito interessante.]


Composição: Arjen Lucassen

1. Beneath The Waves

[Daniel Gindelow:]
The water breaks the golden sunrays
Silver dances on the wave
But a memory...

I often dream about the old days
Playing hide and seek within the caves
But a memory...

[Bob Catley:]
I still feel the rising tides embrace me
Carrying me to a place unknown
But a memory...

I remember all the love they gave me
In this fluid world we call our home
But a memory...

[Anneke van Giersbergen, Floor Jansen:] Beneath the waves we were invincible
[Floor Jansen:] In a world without frontiers
[Anneke van Giersbergen:] World without walls
[Anneke van Giersbergen, Floor Jansen:] Beneath the waves we were inseparable
[Floor Jansen:] In a world without walls

[Steve Lee:]
Faces of cerulean oceans
Mirroring stars and sable skies
But a memory...

How I miss the sense of sweet emotions
Of a world so pure, devoid of cries
Blind a memory...

[Jorn Lande:] Beneath the waves we were unbeatable
[Floor Jansen:] In the silence of the sea;
[Jorn Lande:] In a world without frontiers
[Floor Jansen:] World without walls
[Jorn Lande:] Beneath the waves we were untouchable
[Floor Jansen:] In the kingdom of the free;
[Jorn Lande:] In a world without walls

[Steve Lee:] Beneath the waves we were invincible
[Floor Jansen:] In the silence of the sea;
[Steve Lee:] In a world without frontiers
[Floor Jansen:] World without walls
[Steve Lee:] Beneath the waves we were inseparable
[Floor Jansen:] In the kingdom of the free;
[Steve Lee:] In a world without walls

2. Face The Facts

[Hansi Kursch, Anneke van Giersbergen, Floor Jansen:]
Face the facts, there is no way back
Arise! It's time to act
Face the acts, our future is black
Our eyes were on the wrong track [x3]

3. But A Memory...

[Tom Englund:]
Water breaks the golden sunrays
Silver dances on the wave
But a memory...

I often dream about the old days
Playing hide and seek within the caves
But a memory...

4. World Without Walls

[Jorn Lande:] Beneath the waves we were unbeatable
[Floor Jansen:] In the silence of the sea
[Jorn Lande:] In a world without frontiers
[Floor Jansen:] World without walls
[Jorn Lande:] Beneath the waves we were untouchable
[Floor Jansen:] In our kingdom of the free
[Jorn Lande:] In a world without walls
[Floor Jansen:] World without walls
[Jorn Lande:] Beneath the waves we were invincible
[Floor Jansen:] In the silence of the sea
[Jorn Lande:] In a world without frontiers
Beneath the waves we were inseparable
[Floor Jansen:] In our kingdom of the free
[Jorn Lande:] In a world without walls

domingo, 1 de junho de 2008

Domingo em família

Nada como um domingo em família. Aquele que, às onze da madrugada te desperta com barulhos de crianças desafinando seus instrumentos musicais enquanto outras crianças, um pouco maiores e mais gordas, ficam rindo, batendo palmas; agitando. Depois, na TV, algum esporte emocionante: uma maratona. Verdadeira prova de superação daraça humana que me dá muito sono. Saí da frente da TV para um barulho pior: músicas que tocam na rádio. Crianças correndo com a bandeira do náutico. Muito barulho. Os mais velhos conversam sobre as mesmas coisas de sempre. Depois, fofocam sobre as mesmas pessoas. Fofocam sobre mim, na minha frente, zoando com o meu cabelo que ainda dorme. Isso é divertido. Passam por mim e perguntam o que faço deitado, sozinho, observando as pessoas lá do sofá. Respondo: " Estou meditando para tentar ignorar essa música que tá tocando no rádio". Risos.
Pessoas começam a condenar essas músicas semi-pornográficas, do chupa que é de uva, senta que é de menta... Fico pensando se havia alguma boa rima verbal pra morte. =P
O engraçado é que as pessoas que criticam pegam seus filhos nos braços e ficam cantando algo do gênero. E, depois, reclamam. Minha priminha Eduarda, de 4 anos, subiu na cadeira e fez uma performance. Dançou, rebolou, fez pose como uma stripper, passando as mãos pelos não-seios, empinando a undinha e tudo mais. As pessoas, rindo, comentam: "ela viu muito aquela novela que tem a stripper(de fato, falaram o nome da novela, mas meu aparelho cognitivo não teve capacidade de captar). Depois da dança, ela, menina de 4 anos de idade, ainda resmunga: "Danilo perdeu." Danilo, primo, de 6 anos.

Durante algum tempo eu venho criando um certo pavor a crianças. Folhinhas de papel em branco que são manchadas antes mesmo da auto-escrita, se é que há um, para certas pessoas. Enfim, talvez eu tenha mais pavor do que fazem com elas.
Agora, saindo, pois a pequena pediu pra jogar um jogo qualquer aqui no pc. =P

quarta-feira, 28 de maio de 2008

Fatos

[O fato é que eu tô apaixonado e não sei o que escrever aqui nesse treco! =P

^^'''']

Resposta a Vinícius

Poeta sou; pai, pouco;irmão, mais.
Lúcido, sim; eleito, não.
E bem triste de tantos ais
que me enchem a imaginação.

Com que sonho? Não sei bem não.
Talvez com me bastar feliz
- Ah, feliz como jamais fui!-,
arrancando do coração
- arrancando pela raíz-
este anseio infinito e vão
de possuir o que me possui.

Manuel Bandeira

domingo, 25 de maio de 2008

Learning To Live

"The ways that your heart sounds makes all the difference
It's what decides if you'll endure the pain that we all feel
The way that your heart beats makes all the difference
In learning to live
Here before me is my soul
I'm learning to live
I won't give up
'Till I've no more to give"

/,,/

Domingo

Tormento do ideal

Conheci a beleza que não morre
e fiquei triste. Como quem dá serra
mais alta que haja, olhando aos pés a terra
e o mar, vê tudo, a matar nau ou torre,

Minguar, fundir-se, sob a luz que jorre;
assim eu vi o mundo e o que ele encerra.
Perder a cor, bem como a nuvem que erra
ao por do sol e sobre o mar discorre.

Pedindo à forma, em vão, a idéia pura,
tropeço, em sombras, na matéria dura,
e encontro a imperfeição de quanto existe.

Recebi o batismo dos poetas,
e assentando entre as formas incompletas,
para sempre fiquei pálido e triste.


By Antero de Quental.

Boa poesia. ^^' Eu sei que não tô escrevendo nada. Pra quem gosta das minhas bobagens filosóficas, perdão. Tô com um certo bloqueio. =p Também, custa nada viver um pouco mais e refletir um pouco menos. Bom domingo!

segunda-feira, 19 de maio de 2008

quarta-feira, 14 de maio de 2008

Não me deixe respirar esta noite. A dor nunca é maior que os dias vazios. Todos dormem enquanto luzes permanecem acesas. Nada possui um devido lugar.
Não há poesia ou coração. Apena s delírios de mentes cansadas e vazias; mentes que ecoam diante do espelho: ressoam surdas e incessantes ante o grito tardio dos atos inacabados.
Não há intento. Não há palavras que expliquem sentimentos. O tempo de desejar o que se tem, de sonhar em ser o que já se é... Não.
Por quantos anos ainda irão enganar a si mesmos? Quem paga o preço das mentiras eleitas as mais doces palavras ditas?

Para proteger uma só verdade, criou-se a fábula do não-ser.
Para condenar uma só mentira, deu-se a todas as outras a liberdade.


[O peregrino Obscurecido]

segunda-feira, 12 de maio de 2008

Auto-destruição.

[Hoje eu tô meio auto-destrutivo, sabe? Por isso vou postar uma cena de um conto que eu ando escrevendo. Meu maior conto concreto até agora{!!!}. Consegui começar a escrevê-lo graças a uma certa pesoa que me emprestou uma caneta. Não sei o que seria de um "escritor" tão irresponsável não fosse a boa vontade alheia. =P]


I

Estava na varanda do décimo andar.Olhava todos lá de cima e eles estavam tão pequenos. O caos reinava: entre carros, pedestres, motos e ônibus: a cada fração de esquina que observava, menos era possível definí-la. O movimento. Poucas cabeças voltavam-se para cima, para o céu, como parece ter previsto um apocalíptico dos anos 30. E, de lá de cima, realmente não havia grande sensibilidade à morte. Se uma imensa pedra caísse do oitavo andar, esmagando muitos corpos, não haveira grandes danos; sequer um tenebroso impacto sobre sua psiquê. De longe, a morte nos mostra o seu caráter banal. Pensou que se estivesse lá, embaixo, ou mesmo em um andar abaixo de onde cairia a suposta pedra, então haveria o terror e o cheiro de sangue em suas narinas. Não sei qual a visão perfeita da morte, se de perto, ou de longe. Não sei qual das duas é pura ilusão. Talvez ambas...

E ele queria ser uma imensa pedra na vida de uma pessoa. De tanto olhar para o chão, observar os pobres mortais saindo e entrando de sua s casas de formiga, perdeu a noção de onde ele mesmo estava. Arrisco dizer que, ao breve movimento das nuvens que ninguém vê, ele já não sabia mais quem era.
Com um anel prateado em mãos e o rosto apocalíptico dos suicidas corajosos, decidiu que de cima abaixo ele poderia ser a imensa pedra. No ranger dos seus dentes amarelados de uma juventude sem brilho, ele carregava a nítida expressão de que era preciso machucar alguém. Não dise uma palavra. Sentou-se à beira da janela para lugar nenhum. Com o anel prateado na palma da mão esquerda, esboçou um choro inconsolável. Engoliu-o. Sua face ficava levemente pálida. Lá de cima, a cada segundo, ele se convencia de que era a grande pedra. A gravidade é implacável. Pensou que seria indiferente para ele ver sua morte daquela altura. Se pudesse fotografar a cena do alto e fechar os olhos... E, como se ´pudesse estar em dois lugares ao mesmo tempo, ator e platéia, pulou. Não houve como eu dizer que, assim como o seu corpo, sua visão de si mesmo cairia andar por andar; até o chão. Ele parecia não me notar ali... Caiu e não pude ver a última expressão de sua face intacta. Não fez barulho, lá de cima. Não estava mais ali... Nada. A noite seguiu calmamente.


* * *

sexta-feira, 9 de maio de 2008

Ensaio de tranquilidade


Olá, pessoas. =)

Hoje eu tomei dois ótimos banhos de chuva. Também encontrei, por acaso, uma pessoa que não via há anos. Sempre que encontro a velha turma, normalmente mudada, diferente daquilo que elas imaginavam, me recordo da obra de arte que é Kimi ga nozomu eien.
Enquanto ela ia embora e eu comia uma pizza grande sabor muzzarela(sozinho! =P), pensei em escrever algo aqui sobre Schopenhauer. Algo sobre vontade de poder. Mas não algo nietzschiano a esse respeito.
Porém, o dia foi passando. Passando. Eu esqueci Schopenhauer e suas idéias por enquanto. depois organizo um post decente.

Hoje eu também reencontrei, não por acaso, um grande amigo. Fiquei feliz em vê-lo depois de tanto tempo. Conversamos pouco, mas o suficiente para me incentivar a postar algo aqui. A questão, como estava conversando com Flor agora a pouco, é se as pessoas já pensaram o quanto elas se preocupam com o tempo. Falava sobre isso indiretamente com o meu amigo, Erick. Lembro que iniciei um curso de teoria musical, mas larguei por várias razões. Agora eu tenho a oportunidade de realizar um trabalho aí. Estou tranquilo. Já quis ser músico, filósofo, sociólogo e escritor. Tudo num fôlego só. Tudo isso ao mesmo tempo. Eu estava tentando explicar a ele que não desisti da música. Que meu coração, em relação às coisas que quero fazer, está agora mais tranquilo. Eu não preciso fazer tudo ao mesmo tempo. Aí, me disseram: "E você vai deixar coisas da sua vida pendentes? Vai deixar de investir nisto ou naquilo? Como pode? E se você morresse amanhã?"
A verdade é, que se eu morrer amanhã, o que importa? Ainda assim não teria feito nada. Não tenho mais o entusiasmo de engolir, de controlar o tempo, de fazer tudo num segundo e depois...
Decidi me dedicar aos estudos em ciências sociais por enquanto. Mas, o mais importante do post não são minhas escolhas, que servem apenas para ilustrar a idéia. O que importa mesmo é uma noção de tempo menos apressada ou frenética. Posso parecer um velho falando essas coisas, mas, se pensamos na finitude breve da vida, por que não pensar antes na sua continuidade? Posso ter mais uns 40,50 anos de vida. Com esse tempo, posso fazer muita, muita coisa. Assim, é mais fácil fazer pequenos planos, traçar pequenas metas. O quanto não se deixa de dormir pensando na insônia?O quanto não se deixa de viver...? Isso me lembra Bergson e também as coisas de fenomenologia que li. Isso não é um "carpe diem", eu acho. Isso é, pra mim, uma espécie de calma e paciência. Acreditando no dia que virá. Fazendo as coisas acontecerem.
Que todos fiquem tranquilos =]

quarta-feira, 7 de maio de 2008


[Nesta foto de uma excursão de 2003, estamos eu e davi. Hoje, estou 12kg mais gordo/forte. davi, uns 7. Claro, estamos pelo menos uns 3cm mais altos. Isso não importa. ehaueahiuehie
O que importa é que o post de hje é a prova de que homens também conversam sobre dieta. E isso, meus amigos e amigas, é muito engraçado!]

Davi Nonato Braid - Internet caindo [até o dia 7] diz:
Tenho um negócio pra você =D
Qüen [GTO] diz:
bom dia
Qüen [GTO] diz:
^^
Qüen [GTO] diz:
tem, é?
Qüen [GTO] diz:
o q?
Davi Nonato Braid - Internet caindo [até o dia 7] diz:
Dieta dos pontos.
Davi Nonato Braid - Internet caindo [até o dia 7] diz:
Achei que cê fosse ficar interessado.
Qüen [GTO] diz:
hã? como é?
Davi Nonato Braid - Internet caindo [até o dia 7] diz:
É uma dieta que te ensina a emagrecer comendo de tudo =D
Davi Nonato Braid - Internet caindo [até o dia 7] diz:
Muuuuuuuuuuito da hora!
Davi Nonato Braid - Internet caindo [até o dia 7] diz:
Você só tem que calcular as quantidades.
Qüen [GTO] diz:
hun... e pq pontos?
Davi Nonato Braid - Internet caindo [até o dia 7] diz:
http://saude.abril.com.br/especiais/dieta_pontos/calculadora.shtml
Davi Nonato Braid - Internet caindo [até o dia 7] diz:
Você tem que calcular a quatidade de "pontos" que pode comer por dia.
Qüen [GTO] diz:

Qüen [GTO] diz:
que escroto
Qüen [GTO] diz:
vamo ver
Davi Nonato Braid - Internet caindo [até o dia 7] diz:
Os alimentos tem pontuação. xD
Davi Nonato Braid - Internet caindo [até o dia 7] diz:
Cada ponto é equivalente a cerca de 3,6 calorias. =P
Qüen [GTO] diz:
eu posso comer, assim, uns 100000 pontos?
Davi Nonato Braid - Internet caindo [até o dia 7] diz:
ASDiuhUASHD
Eu só posso comer 424 pontos por dia. xD
Qüen [GTO] diz:
hj eu treinei kung fu no quintal. eu posso...
Qüen [GTO] diz:

Davi Nonato Braid - Internet caindo [até o dia 7] diz:
Ahhhh... Tem diferença caso você faça exercícios. Calcula aí.
Qüen [GTO] diz:
hum... por peso.
Qüen [GTO] diz:

Qüen [GTO] diz:
meu tmb é 1903 ? que legal! e o que é isso?
Qüen [GTO] diz:

Davi Nonato Braid - Internet caindo [até o dia 7] diz:
Tem a definição por aí. rs
Qüen [GTO] diz:
eu posso comer 687.1 ponto, ó.
Davi Nonato Braid - Internet caindo [até o dia 7] diz:
Pode comer mais que eu! rs
Qüen [GTO] diz:
n~]ao.. cruzando com a altura dá o limite de 487
Qüen [GTO] diz:
vc deixa eu postar essa covnersa no blog?
Davi Nonato Braid - Internet caindo [até o dia 7] diz:
Por que cê quer postar essa conversa no blog?
Davi Nonato Braid - Internet caindo [até o dia 7] diz:
õó
Qüen [GTO] diz:
pq isso é mto escroto!!! as pessoas não acreditam que homens podem conversar sobre isso.
Davi Nonato Braid - Internet caindo [até o dia 7] diz:
Hahaha... Vai. Posta
Davi Nonato Braid - Internet caindo [até o dia 7] diz:
Rafael...
Davi Nonato Braid - Internet caindo [até o dia 7] diz:
Um sushi tem 15 pontos.
Qüen [GTO] diz:
AHHHHHHHHHH fudeu
Qüen [GTO] diz:

Qüen [GTO] diz:

Davi Nonato Braid - Internet caindo [até o dia 7] diz:
Se a gente for comer Sushi, é melhor comer ainda menos um dia antes! SIAUDhIUASHDuihASD
Davi Nonato Braid - Internet caindo [até o dia 7] diz:
A gente come FÁCIL 50 peças daquilo.
Qüen [GTO] diz:
=X dois dia s sem comer, pra gente poder comer nossos 80.
Davi Nonato Braid - Internet caindo [até o dia 7] diz:
Dá 750 pontos...
Qüen [GTO] diz:
se come. a gente acabou com o arroz do Tomi!!!!
Davi Nonato Braid - Internet caindo [até o dia 7] diz:
rs
Davi Nonato Braid - Internet caindo [até o dia 7] diz:
Pode crer! XD
Davi Nonato Braid - Internet caindo [até o dia 7] diz:
Maaaaaaaano... Sério! Se for ter rodízio, tenho que não comer no dia anterior. Isso é sério!
Davi Nonato Braid - Internet caindo [até o dia 7] diz:
A dieta não é rigorosa. É mó legal, mas mata nosso sushi. Os pontos acabam mais rápido do que você pode imaginar o.o
Davi Nonato Braid - Internet caindo [até o dia 7] diz:
(Essa frase soou meio apocalíptica! AISDUhIASHDuhASHDUIHSDA)
Qüen [GTO] diz:
nããããão! problema da dieta. só como sushi uma vezinha por mÊs mesmo... não vou deixa r de come r minhas 80 peças. principalmente pq vou voltar a treinar com edilson e quebrar cocos! quantos pontos será que tem um coco?
Qüen [GTO] diz:

Davi Nonato Braid - Internet caindo [até o dia 7] diz:
Tem na lista http://saude.abril.com.br/especiais/dieta_pontos/lista/interativa.shtml


[Tomi é o dono de um dos nossos sushibares favoritos: O Tsunami.]

segunda-feira, 5 de maio de 2008

Insônia, maionese e mel. =)

[Aqui está meu post da semana. Completamente fora de contexto. =) Eu não conseguiria ser tão sincero se tentasse edita-lo. Que importa os erros de concordância, a dubiedade, o neologismo tosco, afinal. Não quero que seja bonito ou que leiam e congratulem-me por um "bom texto". trata-se de sentimentos aqui. trata-se, no máximo, de uma resposta a um certo amigo com quem tenho o prazer de pensar.]


O que eu posso dizer da imagem é que ela também me lembra algo. Algo que eu já quis muito e hoje simplesmente não sei.
às vezes, só debaixo de uma pedra a gente consegue ler um "eu te amo". É triste que o "eu te amo" não esteja acima da pedra, e é triste quando não é possível olhar por debaixo da pedra.

O que falar diante de um abraço?

Existe uma pessoa que me conhece há pouco tempo. costumamos nos comunicar por olhares e gestos. Somos mal-interpretados às vezes. Mesmo, confundidos com "namorados", o que nos causa uma certa confusão por que não é isso que somos '^^>

Sei que sou muito mal compreendido muitas vezes. E as pessoas não gostam da maneira como eu expresso isso. Ninguém tem a obrigação de me entender. Ninguém precisa entender ninguém. Também não entendo as pessoas, muitas vezes. Mas, o que é tudo isso diante de um abraço? Eu vejo a forma como meu cachorro deita nos meus pés e me olha. às vezes isso parece um abraço. Como minha mãe se esforça e faz minha comida vegetariana todo dia, mesmo que me tente empurrar um peixe de quando em vez. Isso também parece um abraço. às vezes, qdo vc me entende, lá no blog, também é como um abraço. Ninguém precisa me entender como eu sou, mas eu adoro quando isso acontece verdadeiramente. Mesmo que não aconteça com todas as pessoas que eu gostaria. É uma pena. Mas não é o fim do mundo: o tempo é implacável.
Quando me sinto assim, tomado de uma dor que purifica, me vem à mente uma musica da legião urbana: "acho que você não percebeu que o meu sorriso era sincero. Sou tão cínico às vezes. O tempo todo estou tentando me defender...". Esperando por mim.
Pois é. Enfrentando mais uma madrugada, sinto que carrego o otimismo trágico dessa canção. É minha quinta noite em claro e são seis e 23 da manhã. Me sinto ótimo.Me sinto com vontade de agradecer a todas as pessoas que me tocam e que eu toquei de alguma forma. Com um abraço. O mesmo abraço da árvore. O mesmo abraço da árvore do dia de ano-novo.


[Feliz ano novo pra vocês. Um dia eu explico isso. ^^'']

quinta-feira, 24 de abril de 2008

O cotidiano e a Emoções.

[Antes do texto, engraçado citar que a quantidade de pessoas que comentam no blog diminuiu bastante. Ou eu devo ter incomodado muita gente com os Devaneios anti-conformistas, ou o quê. =P Só pra lembrar que isso aqui é um espaço público onde pessoas mostram suas idéias. Quem quiser discordar de mim, que fique à vontade. Eu não mordo... muito. ^^' Aos que ficaram e aos novos leitores, um imenso obrigado pela atenção e pelas idéias produtivas. Acho que já construimos um conhecimento legal aqui. Que isso continue. E, já que estou dentro dos colchetes, como diz thainah, queria dizer que essa conversa tá mais parecendo uma DR! E tenho dito!]

Assim que subi no ônibus notei uma discussão entre uma pessoa que se dizia estudante e o cobrador do ônibus. O tom alto e irritante de suas vozes ressoava na minha cabeça cansada: "eu sou estudante, porra!", dizia o homem. "Não me interessa o que você é, acontece que vocÊ precisa mostrar a carteira de estudante pra comprovar que esse aí é seu passe fácil". O homem insistia que era estudante e foi andando. Sentou Ao fundo, ainda resmungando, enquanto o cobrador também resmungava de lá da catraca. De repente, eles voltaram a se agredir moralmente. O suposto estudante, que não queria nem mostrar o passe fácil nem a carteira de estudante, mandou o cobrador ir estudar pra estar num emprego melhor, se ele estivesse achendo ruim. O cobrador retrucou que pelo menos ele trabalha, e chamou o suposto estudante de vagabundo e acousou-o de estar com um passe fácil de outra pessoa. As agressões verbais intensificaram-se e o estopim foi o cobrador chamar o suposto estudante de liso, que tava às 10 da noite pegando ônibus, criticando a possível pobreza e a índole do indivíduo. De repente, uma ou outra pessoa do ônibus lotado começava a mandar o cobrador calar a boca, e que já tinha sido resolvido o problema. Uma pessoa, um homem, foi mais agressivo: "cala essa boca, cobrador. o cara já passou. tem mais volta não." E o cobrador indignado, disse-lhe: "fica na tua". E o cara: "você quer criar algum problema comigo? Cala a boca!" E a galera do onibus deu um levante de voz contra o cobrador, que só estava seguindo a lei. É engraçado como a maior parte das pessoas se identificou mais com o infrator. O mais engraçado é como uma discussão entre duas pessoas provocou a emoção de outras e gerou tal levante. O cobrador foi ouvindo que iam ligar para a EMTU para reclamar dele até 5 minutos depois da confusão. E para o meu desprazer, um estudante de sociologia estava xingando o cobrador também. Mandando-lhe calar a boca e perguntando qual era o problema de se pegar ônibus às 10 da noite. Mais uma vez, levando o problema da discussão do cobrador com o infrator para si mesmo. Creio que como um estudante de sociologia, ele devia ter ficado quietinho e observado o que eu observei. Esse levante, essa reação coletiva que poderia ter acabado em violência física se continuassem a alimenta-la. Uma mulher interveio e disse: "deixa pra lá, gente. a gente liga pra EMTU e fica tudo resolvido. Não adianta falar com ele não."

Em toda confusão que eu presenciei até hoje na minha vida, esse padrão se repete. O agitador esquentadinho que toma as dores de um outro, que geralmente é culpado segundo a lei ou até segundo certas normas. Os motivadores, que se metem no assunto pra falar o que eles acham. Os bagunceiros, que terminam de levantar a geral que urra contra uma pessoa ou mais: de um fato individual a um fato social. Com aquela emoção de que o velho Durkheim tanto fala. A troco de quê? Bom, isso já é outro papo.

segunda-feira, 21 de abril de 2008

Innuendo

http://www.youtube.com/watch?v=cpys1c3jCNs (outro link pq a porra do vídeo saiu do ar. ¬¬ )


Passando o fim de semana aqui em garanhuns, principalmente na noite do show de biquini cavadão, algumas coisas engraçadas/perturbadoras aconteceram comigo. Aqui segue um relato, antecedido por uma das melhores músicas do Queen.]


A garrafa de vinho embaixo do braço, as pessoas ao redor pulando, gritando... Ao longe, no palco, uma banda de rock antiga se apresenta. Tocam uma música sobre justiça, sobre esquecimento, a la minha coluna direita do blog, um dos últimos textos. Falavam de justiça social; enfatizavam o caso da menina Isabella, dizendo que se o povo conseguia reagir a isso, ainda seria possível que se protestasse por um Estado melhor, e coisa e tal. A galera vibrou, como geralmente se faz ao término de um grande discurso. E só.

As bandas passaram, as pessoas cantaram, pularam, e eu não conseguia "chacoalhar". Impressionante. Pequenas confusões e brigas acontecendo, e o maldito estereótipo era sempre o mesmo: pessoas que nós, "classe média", chamaríamos de marginais unicamente por seus trajes e andares. A banda parecia mesmo animar o público. Eu balançava a cabeça e sorria, como se estivesse me divertindo. A garrafa de vinho(ótimo vinho, por sinal) estava seca. Meus olhos sequer brilhavam. Estava muito feliz em ver meu pai. De resto, estava numa multidão de estranhos.

Momentos antes disso, sentado à mesa com algumas mulheres e meu pai, algo chamou minha antenção: meu pai e uma mulher, que já aparentava seus 40 anos, conversavam sobre questões sociológicas referentes ao crescente ingresso da mulher no mercado de trabalho. Papo russo até pro estudante de sociologia aqui. Meu pai, de um lado, defendia que a crescente profissionalização da mulher acabou tirando-a do lar e da educação moral aos filhos, que a escola não supria isso e que era difícil homens terem essa preocupação com seus filhos. A mulher defendia que era mesmo o espelho moral para suas crianças; que trabalhava e cuidava deles e que simplesmente dava conta de tudo por que as mulheres são melhores que os homens em tudo que fazem; elas conseguem muito facilmente dividir as coisas: cuidar da educação dos filhos e sustentar a casa. Interessantes os pontos de vista; principalmente a forma eloqüente com que eram defendidos. Eu tinha sono. Por meu pai, tudo bem. Ele tava até colocando pontos interessantes e defendendo a importância da mulher, sem nem mesmo criticar a mulher. Mas a outra o tempo todo queria colocar a superioridade da mulher em questão.

Eis que tentaram me incluir no jogo: afinal, um estudante de sociologia deve ter uma boa opinião sobre isso, né, pai? Relutante, pedi para deixarem o assunto pra lá, enquanto a mulher começava a me irritar com a retórica pseudo-feminista de sempre. Minha paciência se esgotou e eu resolvi falar. Sabia que ia me arrepender e que depois do que eu ia dizer, tudo iria virar discurso e ser relativo, e que "cada um é cada um", enfim. Tudo isso que se fala quando não se quer ouvir o que uma pessoa tem a dizer. Fico preocupado com isso. Com esse papo de que as mulheres estão revolucionando e bla bla bla. A mulher em questão pintava o cabelo de loiro, usava roupas bem ao estilo da moda contemporânea; ostentava. Malhava. Tudo bem. Sei lá. Dentro de um contexto de luta por igualdade social e direito à diferença, sinto que algo cheira mal nessa história. Às vezes me parece que as mulheres têm uma propensão maior à adequação e seguimento das normas sociais. Não posso comprovar nada disso, claro. Não sinto cheiro de uma grande revolução rumo à igualdade entre o sexos. Até onde eu sei, em boa parte dos casos, a mulher ainda ganha menos que o homem em um mesmo emprego e, sob o peso de uma tradição, precisaria cuidar da educação dos filhos, embora hoje isso tome caráter diferente, com o possível crescimento da figura paterna. Ah, sei lá. Esse assunto é um saco. Simplesmente não sei por que acham tão maravilhoso conseguir fazer tantas coisas e ser tão úteis à sociedade, consumindo tanto, produzindo tanto, se auto-afirmando tanto. Não quero dar um argumento racional agora. Simplesmente me enche o saco esse negócio de dizer que um sexo é superior. Principalmente quando me sai de uma boca orgulhosa por seguir perfeitamente as normas, trabalhar dobrado pra ganhar menos e ter que ter, e ter, e ter, e ser; por ser tão acrítica e não conseguir me responder por que ela achava que ser bonita significa ser aquilo que ela vê na revista ou vê nas amigas. Se há um gênio mau, uma coisa perversa, seja o capitalismo ou coisa parecida, creio que é esse o tipo de futilidade que ele espera de nós: o narcisismo, o culto a nós mesmos, seres belos de uma beleza que não é. E os meus ideais de direito à diferença e à igualdade de condições entre homens e mulheres facilmente se transforma em chateação. Espero que as feministas de hoje não sejam como essas pseudos que eu encontro nas esquinas de bares e em festas populares. Perdão pela generalização. Por favor, alguém que me diga que existem pessoas preocupadas com a real igualdade e direito à diferença entre homens e mulheres:

sábado, 12 de abril de 2008

Qüen, o tsuru filósofo.

[Agradeço a Flor por ouvir minhas bobagens e rir tanto hoje. ;D Isso aqui é meio que uma homenagem a ela. ^^ ;*]


Estávamos lá, os amigos de um tempo indecifrável, sentados à mesa de uma chopperia do shopping Boa Vista. Debaixo dos braços de Flor havia um pequeno livro - daqueles tipos misteriosos - de capa azul escura com detalhes em amarelo que quase brotavam daquele mar. Meus acessórios, os usuais: violão e bolsa verde em cima da mesa. Falávamos sobre preocupações, chateações e um pouco de perplexidade devido a uma situação que enfrentei esses dias. Claro que, entre o assunto tenso, sempre cabia uma boa dose de humor. Graças ao poder imaginativo de Flor! Garanto que ninguém poderia imaginar melhor que ela um elefante anoréxico. É, -eu sei-, surrealismos. Divertido. Que um dia, tudo que ela imagina, seja.
A imaginação, creio, diferente de Bachelard(e quem sou eu para contestá-lo?=P), não pode ser entendida como uma simples ausência consciencial de si e a reconstrução de uma nova vida, como está escrito no post entitulado "Tédio". Não consigo ver a imaginação sem o seu caráter potencial de transformação dessa camada fina de águas racionais que chamamos "realidade". Isso como algo contínuo, em forma de corrente. Creio que há um certo descaso por parte das pessoas no tocante ao poder de imaginar e acreditar. Mas esse não é o foco.
Voltando à conversa com Flor, sugeri que esta fizesse um tsuru com os papéis coloridos de que ela dispunha, já que pretende fazer mil deles! E ela foi moldando enquanto o chopp era solvido na minha boca. Quando o tsuru amarelo, pronto, foi parar em cima da mesa, eu lembrei dos tempos de criança. Paguei o tsuru com a mão esquerda, inclinei o bico para a face de Flor e disse :"Qüen!". E isso nos gerou uma ótima crise de riso! Como se o tsuru pudesse falar, e para a imaginação de Flor, isso não seria impossível. Então, fitando o tsuru em minha mão, "ausentei-me". Fui levado pela minha consciência a imaginar o início disso tudo, do tsuru... Dele pronto, dos moldes longos até a sua formação, do papel amarelo, da origem do papel, das árvores... Cheguei até aos elementos químicos do mesmo. Salvo a vertigem que senti, estava satisfeito. Nosso potencial criativo depende da nossa capacidade de transformar. Flor não construiu sozinha o Tsuru. Além da técnica envolvida, além de todos os processos humanos que possibilitaram-nos estar ali, naquele momento, com aquele papel, existe algo; o tijolo do qual toda essa cadeia foi construída. Algo não necessariamente humano. Fitando a possível face daquele objeto de papel, que ganhou vida e um nome, pude sentir o que relato. Omito muitas informações aqui. por exemplo, depois disso eu abri o livro azul em qualquer página e li um trecho, como de costume. Falava de uma experiência de quase-morte. A unicidade e a totalidade... Não tenho a intenção de ser teórico. No máximo, poético ou filosófico. Não consigo deixar de pensar em todos esses símbolos que carregamos... Os significados....

Imaginar é agir e significar (n)o mundo.

sábado, 5 de abril de 2008

O meu amor

O meu amor não grita,
ou ferve, ou corre, ou desafina.
Ele é pedra que da gravidade
se utiliza para inerte repousar.

Meu amor não morre, não resolve.
Esconde-se no não-ato das coisas naturais.
Não tenho fome ou sede:
amo com o desejo de desaparecer.

No profundo rio da vida, meu amor
não bóia ou voa como minhas imagens.
Penetrando o invisível, afunda-se
na possibilidade de inexistir.

Eu sou verso triste, sem rima
ou encanto; dos olhos fundos
de esperar um mundo que não há.

E meu coração, então, como melodia
inaudível, silencia; cessa. Afoga
como num crepúsculo nas lágrimas
intestinas desse imenso mar....

terça-feira, 1 de abril de 2008

Tédio

Preciso de um capítulo à parte na minha vida. Também preciso admitir que não tenho paciência pra manter as" coisas como são" por muito tempo. Sempre quis viajar e voltar 3, 4 meses depois. Só pra ver o que mudou. Não quero me prender e talvez seja essa minha prisão. Não entendo como conseguem ser tão constantes. Ainda não aprendi o exato significado de rotina, ou ela ainda não conseguiu me pegar. Enfim, queria ter tempo e disponibilidade pra construir uma meta-vida, uma meta-história. E, que quando ela acabasse, eu pudesse voltar pra mim de onde eu parei aqui. Sem ter que considerar o tempo dos outros. Nem mesmo o meu.

"Imaginar é ausentar-se, é lançar-se a uma vida nova."
Gaston Bachelard

sexta-feira, 28 de março de 2008

Vertigem II

["O homem objetivo, que já não amaldiçoa nem xinga como o pessimista, o erudito ideal, no qual o instinto científico vem a florir por inteiro, após mil malogros totais e parciais, é seguramente um dos instrumentos mais preciosos que existem: mas isto nas mãos de alguém mais poderoso. Ele é apenas um instrumento; digamos que é um espelho - não uma finalidade em si." Nietzsche -Para além do bem e do mal.]

Mancharam tudo de tinta. Os muros, os loudos, as casas e até as árvoras, coqueiros. Armaram árvores de brinquedo e lhe colocaram bolas e luzes. Luzes multicoloridas. Compraram roupas novas, presentes, fantasias, maquiagem, calçados. "ficar mais bonito"; "ficar atraente". Podaram as árvores segundo sua própria estética. Fizeram a barba, depilaram-se. Nada contra.
Crianças brincam, choram.... Todas juntas. Todos juntos. Sorrindo em suas bocas enquanto alguns se alegram do espírito. Por quê? Qual é mesmo o motivo disso tudo? Todos reunidos. Mesa farta. Os velhos falam de algum nascimento. Crianças brigam pelo que "é meu, tia! Não dou!". Adultos bebem até o entorpecimento. Tudo por um momento. A meia noite se aproxima. E... depois... Eles continuam os mesmos. Mas, máscaras belíssimas. Sem dúvida: as máscaras mais bonitas do ano.





24 dedezembro, 2007.

domingo, 16 de março de 2008

colchetes II

[ Preciso agradecer a breno pelo papel e pelo lápis. E a breno e leila por serem meus ouvintes hoje. ultimamente tenho querido ser ouvido. Mais que ouvido, até... Então, entre todos os surrealismos desse fim de semana, aqui vai um breve diálogo.]

-- Qual a maneira mais simples, prática e rápida de o homem viajar de país em país de um determinado continente?

--Comprando passagens e voando de avião, senhor!

--Está certo, garoto. Hoje eu concordo. Porém, isso só se aplica à nossa limitada percepção de tempo.

-- Hein? Como assim, senhor?

--Quantos mil anos o homem levou para aperfeiçoar técnicas, descobrir lógicas e construir o avião?

--Creio que muitos, senhor.

-- Pois então. Você acha que chegaríamos mais rápido lá assim ou andando?

. . .

terça-feira, 11 de março de 2008

colchetes

[Queria falar pra thainá que esses colchetes me deixam mentir sim. Mesmo que depois eles me incriminem, como agora. Não tenho mais a pretensão de escrever sobre cidadania ou qualquer coisa do gênero. Pelo menos não agora e sem vírgula. Tudo que eu queria escrever agora: agonia, esquizofrenia, vertigem, náusea, insônia, tontura, enjôo... Eduardo disse. É verdade. Eu morro de medo de ficar louco.]

"... De repente, passava a reproduzir tudo aquilo que observava: as idéias passaram a fluir em sua cabeça como se fossem suas. no fim de sua pretensa reflexividade, nublou-se com as constatações do seu coração[...]
Viu as árvores, o sol poente, a terra e o asfalto. fitou o sol como a um mito; olhou, estendeu o braço, quase o tocou em si. Piscou, andou dois passos e realizou: parte de sua visão estava ofuscada. Olhou para as pessoas que lhe vinham em sentido contrário. Não conseguia definir seus rostos. Tudo era amórfico e aquela substância verde-azul-reluzente lhe enchia os olhos. A mancha era agora projetada. Olhou novamente as árvores, a terra, os edifícios de concreto e o sol. Fechou os olhos. nada. Abriu-os. Tudo. Sorriu. Tão profunda foi aquela experiencia para ele... Que posso eu enquanto observador? Afinal, a vida é tão profunda e tão dispersa que eu não poderia restringi-la à terceira pessoa do singular."

O observador, janeiro de 2008.

segunda-feira, 3 de março de 2008

Devaneios anti-conformistas I, II [fragmentos do livro]

I

É estranho pensar nisso agora. Se eu pudesse voltar atrás... Penso nas inúmeras possibilidades. Será que eu faria tudo novamente? Será que isso realmente importa? Talvez eu queira regredir e mudar o passado; transfigurar o presente e salvaguardar um futuro: aquele futuro promissor prometido ao menino que tirava boas notas na escola sem precisar estudar. Desejo este futuro agora, neste momento de fraqueza. Pura ilusão. Por mais que temido, o futuro é imprevisível.
Lembro do que minha mãe falava quando, aos dez anos, eu reclamava de qualquer coisa: "Meu filho, existem muitas pessoas em pior estado que você! Muitas não têm o que comer... Elas dariam qualquer coisa para estar no seu lugar"... Mas... Por que diabos isso é motivo de orgulho? Toda essa ladainha não é ridícula o suficiente? Eu tenho fome assim como as pessoas que têm fome. Muitas vezes eu também não desejo estar em mim. A comida, o maldito status, entre outras coisas, são capazes de nos diferenciar tanto assim? Então, eu deveria me conformar com a vida dos que têm fome e seguir em frente, pisando em seus consentidos sacrifícios e lavando com seu sangue a honra da minha ignóbil existência? Faça-me o favor...
Tudo isso é patético, assim como eu. Mas as pessoas acreditam. Elas escutam e veneram esse maldito conformismo. Como se eles não pudessem fazer nada; como se ninguém pudesse fazer nada a não ser seguir a própria norma que é ser feliz a qualquer custo. Que se dane...
Mas, se, de repente, algo dentro de nós partisse? Necessto da quebra dessas correntes. sinto, pouco a pouco, elas cederem... Dentro de pouco tempo estarei livre. Não restará senão um adeus.

II
Eu quero ir embora de verdade. Partir para sempre. Morrer sem que me reste uma lembrança deles em mim. Espero que todos me esqueçam logo. Eu, grão de areia navegante, desafiei a vida e a morte pelo que eu chamo de justiça. Tudo que consegui foi encarar inúmeras contradições; nada além do mais profundo sofrimento. Mais uma vez Falhei. Fui infeliz. Meu corpo mais parece um imã da sombra humana. Eu quis selar toda a dor em mim: compenetrar-me de todas as contradições; engolir a mentira, o ódio e a ganância; digerir a miséria, a solidão e a hipocrisia. Porém, meus atos pertencem a este lamentável mundo. Ele me é muito maior e meu estômago ferve. Melhor esquecer o altruísmo. Não adianta fazer de mim mesmo a caixa de pandora lacrada a sangue e fogo, trancar a minha boca e engolir a chave. Eu vomito aqui, na calçada. No passeio público, para todos vocês.
Por isso, eu rogo pela terra fria, pela bosta que nutre o solo, pois, em essência, minha existência é exatamente igual àquilo. Minha inutilidade teria fim de maneira honrada. Diferente das formas de morrer que eles aplicam hoje: trabalhar, enriquecer para poder ter vários carros e casas. Ter vários carros e várias mulheres; ter vários homens com vários carros: Ter uma vida para jogar na própria cara que não se é nada enquanto não se tem... Machismo, Feminismo e sexo. Eles, da mesma forma que eu, continuam morrendo a cada vez que gozam entre si, gozam neles mesmos, sangram, choram, temem a morte e não sabem por quê. Passam a vida como parasitas, se aproveitando do que podem; trepando, trepando e reproduzindo as mesmas contradições. Tudo isso é muito engraçado, mas me resta a pergunta: como sanar um mal que se autocondiciona?
A resposta para essa pergunta talvez mudasse o rumo de nossa bela evolução.


[Para breve, uma pequena ilustração da idéia de cidadania, dando um ar mais sério e desenvolvendo uma questão mais "relevante " às vidas dos meus queridos amigos. Peço-lhes perdão pelo tamanho do chocolate tipo pimenta na boca e na consciência. No final das contas, cada um poderá cuspir ou engolir.
Novamente, para breve, escreverei sobre a relevância de josé murilo de carvalho no entendimento da formação cidadania no Brasil; como tentativa de apenas ilustrar a complexidade desse fenômeno e como o caso de Cuba deverá ser seriamente observado se é do interesse das pessoas uma Cuba mais "democrática". E, como diz Thainá, os colchetes não me deixam mentir. =P]

quarta-feira, 27 de fevereiro de 2008

Sonho de Eternidade

Em quase tudo, queria ser eterno.
No sabor da água, no fluir do vento.
No coração de alguém, ou em mim mesmo.

Mas...
Corações não são eternos.
Cessam de pulsar
quando a vida bem quer.

Também morre a língua;
o tato, o olhar brilhante.
A estrela cadente que reincide
na história perecível
dos segundos da existência.

Desejo a eternidade que não pode
ser sentida.

Das outras, abro mão com olhos incandescentes.
Pois que se a carne e os sentidos não forem infinitos,
jamais será eterna a minha própria dor.




[chocolate sabor pimenta nos olhos]
by Raphael.

quarta-feira, 30 de janeiro de 2008

Arco...

Era um arco-íris o que ele via. Quando a chuva, já calma, cessava entre a terra e as árvores do caminho, as cores reluziam logo adiante, aos pés de uma colina. Caminhou em direção ao colorido contraste das luzes com o verde da mata, o cinza da neblina e o azul-claro do céu. Uma explosão de vida. Ele devia mesmo sentir inveja do arco-íris. Não queria apenas possuí-lo, tê-lo em suas mãos; não bastava a posse: era preciso sê-lo. Seguiu os restos dos pingos de chuva pela terra amarela e batida, lhe sendo reveladas as mais belas paisagens. E lá estava ele: bem próximo à brilhante muralha prismática que, espantosamente, parecia brotar do chão para as nuvens. Gostaria de dizer algo a ele, mas não pude. Eu não era nada além do vento que sopra. Soprei, mas ele insistiu. Fascinado com a parede ofuscante a sua frente, deu dois passou, estendeu o braço direito e ousou tocar a beleza. tocou-lhe e, de súbito, sentiu um choque em sua mão; seu corpo inteiro tremia e seus cabelos negros perderam levemente a cor: estavam cinzentos como a neblina. Gritou. Não pôde ver a diferença em seus cabelos, mas percebeu, na parte interna dos seus antebraços, seu sangue em tom de verde-floresta. O verde pulsava e seu corpo tremia. A dor percorria todo o seu corpo e logo ele sentiu uma sede tremenda. Desidratou. Pediu perdão ao arco-íris, mas já era tarde para voltar atrás. Gostaria de dizer-lhe algo, mas ele não poderia me ouvir. Gostaria de dizer que seus olhos reluziam nas cores daquele imenso arco-íris. Ele agonizou por mais alguns segundos, sentindo a carne do seu corpo secar e os cabelos cair. Estava quase pronto: já não desfrutava de movimentos humanos, mas seu corpo ondulava e reluzia as sete cores vagarosamente: estava transmutando em outro tipo de existência. Eis que o aro-íris, imponente, levanta vôo atrás das nuvens e, de dentro do corpo daquele homem, sáiram apenas a sede de chuva, a vontade de ser um corpo brilhante e a essência indefinida de sua alma. Todo o resto morreu: alimentou a terra faminta. Logo, a mistura do que restou entrou no arco-íris em forma de vívidas cores que o deixaram ainda mais belo. E então, seguindo a sede de sua natureza, o arco-íris voou entre as colinas em busca da próxima chuva. Não sei o que restou do homem enquanto consciência de si mesmo. Nem se, depois de tanto sofrimento, ele finalmente encontrou o que faltava no fundo de seu espírito. Gostaria de dizer algo àquele homem. Talvez agora ele me ouvisse. Tornando-se o arco-íris, ele não poderia desfrutar daquela visão de antes - a visão humana. Ele perderia o vislumbre da magnitude do mundo. Porém, além da perceptível dor, não sei ao certo o que aquele homem sentiu. De certo que, como eu, ele não está mais dentro e fora do ciclo ao mesmo tempo. Agora, ele está apenas dentro. E eu nunca irei saber como ele se sentiu antes de voltar à eternidade da sua existência: um magnífico arco-íris de sonhos, desejos e nada mais.






Este conto foi inspirado na obra Mushishi.

sábado, 19 de janeiro de 2008

Janeiro.

As chuvas de janeiro começaram. Elas caem impiedosamente, lavando as árvores e a terra. Por caírem em janeiro, elas me dão de novo a maldita idéia de ciclo. A serpente esfomeada que come a própria cauda. A água enche as ruas e os canais fétidos transbordam: pouco a pouco, nos alagados, florescerão peixes coloridos que desaparecerão no porvir do sol que evapora tudo. restará o mesmo pó; o pó sujo das águas poluídas que fazem brotar os mesmos peixes coloridos. E dos corações, alagados, cheios de uma coisa que não cessa de partir... Talvez reste também o pó; a poeira das verdades que não estão mais lá.