sexta-feira, 20 de julho de 2007

A história de Bob

Era uma vez um ratinho chamado Bob. Típico ratinho brasileiro: esperto, ágil, inteligente, sempre superando as adversidades. É certo que sua aparência o ajudava, pois este possuia alguns pêlos ruivos-legado da raíz de família européia. Graças a isso, seu pai, sua mãe e ele, filho único-sobrevivente-, eram respeitados na comunidade dos ratos. Embora o pai se queixasse a maior parte do tempo, falando como era boa a sua infância na Europa, e que ele nunca mais comeu queijo, que os ratos americanos são mais fortes por que o lixo de lá é melhor(enfim...), essa família de ratinhos vivia bem. A sociedade recifence, os canais pútridos, os esgotos antigos e as cheias de verão contribuiram para o bem estar dessa família. Bob, muito esperto, sabia tudo de canais e córregos. Se alimentava até mesmo dos peixinhos "guaru", quando decidia nadar um pouco nos córregos de brasília teimosa(ou formosa, como é conhecida hoje). Certo dia, Bob chegou em casa com uma namorada: Bela, uma ratinha muito bem composta e também descendente de estrangeiros. Viera de navio para recife e morava em boa viagem, por entre o jardim de flores leitosas e vívidas e o canal da rua por trás da avenida Domingos Ferreira. É certo que os dois, muito novos e espertos, curtiam as farras e as madrugadas; fato que não era bem visto pelo pai de Bela, o senhor Brown. Entretanto, eles saíam sempre que podiam e iam dormir na casa dos amigos pra fazer vocês-sabem-o-quê. Esses ratinhos hoje em dia estão cada vez mais desinibidos! Fazem sexo, bebem, usam drogas... Eis que, talvez por isso, o destino de Bob tenha sido tão cruel.

No mundo dos humanos, havia toda uma agitação em volta da campanha por uma cidade limpa. Certos animais contribuiriam para tanta sujeira e tanta doença. Entre as doenças, em especial, havia o pavor pela leptospirose: doença que se pode pegar através do contato com água contaminada por urina de rato. A efervescência da camapanha atingiria seu auge com a implantação de cartazes pelos ônibus e pontos de ônibus dizendo que era preciso combater a ferro e fogo a leptospirose. O cartaz tinha a foto de um rato enorme e horroroso e dizia: "Leptospirose. Isso precisa morrer". Graças a isso, começou a existir uma imensa perseguição aos ratos e, certo dia, desobedecendo sua mãe, Bob foi encontrar Bela numa rave no bairro de piedade. A festa foi esplendorosa: muito ecstasy, muita ratinha dando por aí, e Bob passou a noite inteira bebendo, se drogando e trepando muito com sua namoradinha. Até que, às quase cinco da manhã, Bob, depois de tanta farra, desmaia na beira de um córrego. Ao acordar, já sozinho, em plenas nove horas do dia, Bob percebe que está sendo vigiado por um grupo de humanos curiosos que, ao notarem que Bob estava vivo, começaram a gritar incessantemente: "RATO, RATO! MATA!". Bob, longe de casa, com as patas fracas e a cabeça doendo de tanto trepar, pensou: "Me fudi". Saiu-se correndo apavorado, mas já não tinha forças e a multidão de gigantes começava a alcançá-lo. Fora encurralado num círculo, esquivando dos pisões e das vassouras nervosas pelo seu sangue. Urinava de medo e pavor; tentava sair, mas era chutado, pisado, as vassouras tiravam fino de sua cabeça. Eis que um sujeito esperto, desses entregadores de água mineral que andam em bicicletas pensou: "ele não deve escapar do butijão de água". Então, o esperto homem lança no meu do círculo os vinte litros de água que, tragicamente, dilaceram o pobre corpo de Bob; seu sangue, sua urina, suas vísceras compostas na água que se derramou, lavavam lentamente os pés dos carrascos que ali estavam, atônitos com a incrível inteligência do entregador de água. Pobre ratinho: morto no auge da vida. Entre alguams daquelas pessoas, havia uma senhora com vários "bifes" e uma unha encravada que sangrava facilmente. Havia ainda um rapaz que, ao pisar o rato de chinelo, não percebeu que o corte no pé, dádiva de um jogo de bola num campinho há três dias atrás, não havia se fechado por completo. teve a chance de ir no hospital para pontear os ferimentos, mas como é brasileiro, resolveu deixar para depois. E assim, os casos de leptospirose continuaram aumentando. Pobre ratinho. Pobres pessoas, os idiotas da vez.




Vocês já pensaram sobre como o nazi-facismo surgiu?

12 comentários:

buildup disse...

Homens matam ratos.
Ratos matam homens (mesmo sem querer).
mas o final é sempre igual, homens matam homens...

asadebaratatorta disse...

é, né? :p

Anônimo disse...

cabuloso ^^

prussiana disse...

não me venha, da próxima vez, contar o trágico fim de uma barata. 8[]~~

como sempre, eu não entendi.

Unknown disse...

homens e seus pensamentos individualistas ou coletivos, nunca pensam no lado ruim da estoria, no lado que vai sair perdendo, só pensam no que é bom pra eles.
as vezes acabam se dando mal.

asadebaratatorta disse...

Esse texto, apesar de falar de ratos, diz respeito aos direitos humanos. O teor de medo e ódio nas sociedades está muito alto. Não é questão deproteger os direitos dos bandidos ou coisa assim, mas de 1990 pra cá a população brasileira tem reagido com mais violência aos crimes a cada dia. O medo, do texto "medo e democracia" e a violência que há nesse texto são a tentativa de mostrar o pânico que sentimos pela falta de normas na sociedade. Aparentemente, as pessoas querem regras rígidas, um Estado imediatista, uam legislação rigorosa em que se diminua a maioridade penal, pena de morte, pena de tortura e trabalho escravo. O bode expiatório da vez seria o pobre, talvez o menos e o mais sofredor dos bandidos. Césare Beccária, grande iluminista que não foi conhecido por que não convém aos "donos" do conhecimento divugá-lo, há séculos já demonstrava que a pena de morte não reduz a criminalidade. essas medidas reguladoras da vida humana são facistas, minha gente. tudo que elas fazem é "limpeza social": matam gente. No Brasil, entre 1972 e 18989 houve 272 linchamentos, nos quais metade ocorreram após ter-se instalado o governo civil. Não quero nem ver os números de hoje. Como diria Breno, violência gera violentos. Esse ódio e esse medo apenas nos enfraquece.

buildup disse...

Bravo!
Bravíssimo!
perfeito...

Anônimo disse...

Bravo!
Bravíssimo!
perfeito... ²

;D

Andréa disse...

Pobre Bob! Pobres de nós!

prussiana disse...

mas ratos e humanos são inevitáveis, o que leva isso a ser uma luta eterna. :D

Anônimo disse...

Vixe, nao tem nem oq falar xDDD
Bela analogia o.o xDD

Anônimo disse...

And you ask me what I want this year
And I try to make this kind and clear
Just a chance that maybe we'll find better days
Cuz I don't need boxes wrapped in strings
And desire and love and empty things
Just a chance that maybe we'll find better days

So take these words
And sing out loud
Cuz everyone is forgiven now
Cuz tonight's the night the world begins again

And it's someplace simple where we could live
And something only you can give
And thats faith and trust and peace while we're alive
And the one poor child that saved this world
And there's 10 million more who probably could
If we all just stopped and said a prayer for them

So take these words
And sing out loud
Cuz everyone is forgiven now
Cuz tonight's the night the world begins again

I wish everyone was loved tonight
And somehow stop this fight
Just a chance that maybe we'll find better days

So take these words
And sing out loud
Cuz everyone is forgiven now
Cuz tonight's the night the world begins again
Cuz tonight's the night the world begins again

Por que "Dias melhores" são sinônimo de letra de música surrealista e utopia de minorias? Bela analogia entre homens e ratos.... se bem que alguns homens nem merecem ser sequer "chamados" de ratos.
"Naanu"