Não canto.
São só palavras:
ecos de outras vozes
trepidando na janela.
É só o vazio
que inunda inutilmente
a forma vã
da vontade de existir.
segunda-feira, 22 de novembro de 2010
segunda-feira, 19 de abril de 2010
Desceu as escadas lentamente, ressoando degrau a degrau a sola dura do seu sapato preto ao encontro da madeira. Por certo, escondi-me ali, onde cores pudessem me denunciar. Trazia em mãos uma imensa gramática da língua portuguesa. Sua expressão fixa, como uma fotografia ambulante. Sua postura ereta, de ombros levemente curvados à frente, como que cansada da noite mal dormida.
Quis falar, quis tocar seu ombro e perguntar sobre a gravidade do corpo, a pressa da mente e a paralisia do rosto. É certo que eu não poderia, por não ser matéria. Naquele instante, toda a minha existência se resumia àquela percepção. Eu me sentia só, mas não saberia como falar. De alguma forma, eu não passava daquele espaço vazio por onde ecoava o ritmo dos passos espiralados, que sutilmente saíam de cena para que minha morte fosse, mais uma vez, anunciada.
***
Quis falar, quis tocar seu ombro e perguntar sobre a gravidade do corpo, a pressa da mente e a paralisia do rosto. É certo que eu não poderia, por não ser matéria. Naquele instante, toda a minha existência se resumia àquela percepção. Eu me sentia só, mas não saberia como falar. De alguma forma, eu não passava daquele espaço vazio por onde ecoava o ritmo dos passos espiralados, que sutilmente saíam de cena para que minha morte fosse, mais uma vez, anunciada.
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segunda-feira, 8 de março de 2010
As flores secas no pequeno jardim da varanda. O vento lutando para arrancá-las. Porções de areia ao chão, por entre os vasos de terra árida. Maresia nas janelas de vidro esverdeado. Para onde foi aquele que não dava rosas, e sim sementes?
O apartamento está morto. Não encontro pistas em parede alguma. Tudo branco, sem rabiscos, sem pinturas, sem história. Da varanda, avisto a piscina. Pequeno aquário para as crianças. Acima, o sol se põe. Já é tarde. É tarde demais. Deve ter ido embora. Este lugar não pareceu conveniente.É muito mais fácil receber do que cultivar.
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O apartamento está morto. Não encontro pistas em parede alguma. Tudo branco, sem rabiscos, sem pinturas, sem história. Da varanda, avisto a piscina. Pequeno aquário para as crianças. Acima, o sol se põe. Já é tarde. É tarde demais. Deve ter ido embora. Este lugar não pareceu conveniente.É muito mais fácil receber do que cultivar.
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quinta-feira, 28 de janeiro de 2010
Ar fresco
Me estranha o fato de às vezes eu não ser capaz de perceber que respiro. Como é possível alguém não perceber tal coisa? Pois tente passar um tempo embaixo d'água, pra ver o que você consegue.
Quer dizer, às vezes a gente faz tanta coisa importante na nossa vida, sem sequer nos dar conta. Como você se sentiria se soubesse estar fazendo as coisas mais importantes da sua vida por um looongo tempo, sem ao menos saber quão importantes essas coisas são?
Não seria como se você pudesse aproveitar todo esse tempo; de antes de você entender como eram ou são importantes as coisas que você fez ou faz.
Imagina uma pessoa passar a vida inteira sem perceber que respira. Sem atentar para a profunda realidade que há neste fato: necessitamos.
Quantos de nós sabem realmente o que necessitamos? Além do ar. Isso é só o começo.
O que nos completa tão solenemente, ao ponto de nos fazer cessar o desejo?
O que nos falta, tanto que nos faz perder tudo por alguma coisa?
Que seja: resolvi dar um tempo das Grandes Perguntas.
Como é simples tudo isso.
Pode parecer estranho, mas a pura percepção de que respiro tem-me feito respirar muito melhor.
Quer dizer, às vezes a gente faz tanta coisa importante na nossa vida, sem sequer nos dar conta. Como você se sentiria se soubesse estar fazendo as coisas mais importantes da sua vida por um looongo tempo, sem ao menos saber quão importantes essas coisas são?
Não seria como se você pudesse aproveitar todo esse tempo; de antes de você entender como eram ou são importantes as coisas que você fez ou faz.
Imagina uma pessoa passar a vida inteira sem perceber que respira. Sem atentar para a profunda realidade que há neste fato: necessitamos.
Quantos de nós sabem realmente o que necessitamos? Além do ar. Isso é só o começo.
O que nos completa tão solenemente, ao ponto de nos fazer cessar o desejo?
O que nos falta, tanto que nos faz perder tudo por alguma coisa?
Que seja: resolvi dar um tempo das Grandes Perguntas.
Como é simples tudo isso.
Pode parecer estranho, mas a pura percepção de que respiro tem-me feito respirar muito melhor.
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