Após 90 minutos de exaustão, tensão e nervosismo, o Sport venceu os arruaceiros corinthianos por 2 a 0, contrariando o pobre Kléber Machado, que a cada gol do time pernambucano, poupava sua garganta corinthiana com um grito de gol inexpressivo. Foi divertido. Os corinthianos cederam 900 ingressos aos rubro-negros lá em são paulo e, quando receberam o mesmo número de ingressos aqui, resolveram protestar nas ruas. A cidade estava tensa. A universidade federal, vazia. Parece que pouca gente pensa lá dentro mesmo... Pra quê pensar num dia como ontem? O governador pediu e o Sport cedeu mais ingressos aos arruaceiros. Divertido também. Mais gente viu a malícia do jogador do corinthias, que foi expulso no seu primeiro lance. O que os torcedores do Sport, no estádio, não viram: a imensa quantidade de microfones na 'geral' do corinthias e as legendas para seus cânticos bregas. Isto, meus caros, é Política. Duas mil pessoas não fazem mais barulho que 28 mil. A não ser que utilizem os microfones da globo 'nacional' , é claro. Novamente, muito divertida foi a situação. Eu poderia continuar falando de relações de poder regionais, mas...
O engraçado é que, na câmara dos deputados, aprovou-se um novo imposto, o CSS, que, na verdade, se assemelha ao enterrado(?) CPMF. O que este fato muda em nossas vidas, enquanto cidadãos? Alguns radicais associam o futebol ao bom e velho pão-e-circo. Não creio que seja assim tão simples. A massiva onda de um pernambucanismo enche muitas pessoas de orgulho, reconhecimento, satisfação. Isto indica algo positivo em uma região que sofre para se desenvolver, mas sem a dramaticidade de um jogador do Sport que falou ao jornal da tarde que "um povo sofrido merece o título". Isso me cheira a um estereótipo bem tradicional e conhecido nacionalmente. Há uma imagem em jogo. Futebol tem dessas coisas. Suscita vários temas. Também não é sobre imagem social que eu quero falar aqui. Vamos continuar com o papo da cidadania.
O futebol é uma das manifestações públicas mais importantes, em termos quantitativos, do país. Este é um fato que, se partimos de uma postura normativa da vida social, não necessita mudar. É mesmo uma febre que me lembra Durkheim. Eu poderia falar de Nobert Elias, que trouxe grandes contribuições à sociologia dos esportes como um todo, relembrando meu breve momento enquanto estudante vinculado ao Nucleo de Estudos em Sociologia do Futebol, na UFPE.Isso é importante para uma sociologia brasileira "que veste a camisa", porém, deixemos de lado. O que eu quero perguntar: por que em praticamente todos os fins de semana do ano lotamos estádios para ver jogos de futebol, e, no entanto, pouco nos mobilizamos para reivindicar questões práticas da nossa política? Não me entendam mal. Tal pergunta não é feita de maneira ingênua. A vocês que, imediatamente, elaboraram uma resposta que já parecia estar pronta, peço que estudem-na com cuidado. Usem a racionalidade inteligente, diferente da maquininha que busca mais prazer e menos dor. Eu mesmo, dentro de minha atitude natural da academia, possuo uma resposta pronta à qual necessito criticar. Sejamos atentos. Como podemos pensar em cidadania? Cabe-nos analisar tal fato segundo uma dialética negativa, que analisa, critica e nunca nos traz uma resposta satisfatória além do apocalipse? Existe o SUS. Existe, há alguns anos, eleições de diretoras nas escolas municipais do recife, fato que pretendo estudar num provável mestrado ou doutorado. Vários espaços estão sendo criados. É preciso estar atento a eles e utiliza-los com a sabedoria que vejo em minha mãe, uma educadora bem diferente do convencional. Um time de pouco status nacional venceu ontem. Nós, os sujeitos, não estamos mortos, nem somos calculadoras de prazer e dor. Isso pode ser mais um discurso. Pode ser mais uma tentativa frustrada de fazer pessoas pensarem a partir de suas consciências. Isso pode até ter vários nomes. Que seja. Isso não me importa.
[chocolate sabor asadebaratatorta]
quarta-feira, 11 de junho de 2008
Assinar:
Postar comentários (Atom)
17 comentários:
Verdade seja dita é que nem sempre o que realmente é mais importante é priorizado...enquanto que hoje tantos estão na rua comemorando o merecido título do Sport(afinal de contas tb sou rubro negra), há tanto o que se lutar em nosso país.
Toda essa energia que o povo brasileiro leva para campo, deveria ser canalizado para manifestações, ações, pelejas contra a situação principalmente política que é uma vergonha.
Alienação existe. O futebol é magnífico sim, não tenho dúvidas...e nós pernambucanos, graças a Deus não torcemos como a maioria dos estados do nordeste para os times sulistas, protegidos pela barra da mãe mídia (Globo e as demais.
Então, como Rapha falou, pq n pensar e n agir tb em frenesi, quando buscamos nossos direitos como cidadãos e tb cumprindo nossos deveres com total responsabilidade?
Não é que deixemos de nos sentir felizes em participar do futebol e de seus shows de emoção pq isso se chama lazer.
Mas o importante é não fazer com que o lazer tome conta de nossas vidas como se elas fossem festa todos os dias.
Os problemas sociais estão aí...Será que ainda somos cegos, não acordamos ou ainda não queremos enxergar?
Ainda temos muito a caminhar nessa estrada cheia de pedregulhos que se chama Brasil.
De fato, não precisamos deixar de curtir o futebol para 'curtir' a "política-vida". Minha proposta aqui foi fazer pessoas pensarem. Só isso. =P Acho que devemos começar por aí nessa estrada de pedregulhos. Um fato engraçado: alguns artistas marciais japoneses, ao alvorecer, caminhavam sob uma área de seixos que lhes massageavam os pés. Acreditavam eles que o orvalho da manhã, o sol e a natureza energizavam as pedras e que o simes andar por elas provocaria curas internas. Com o avanço da reflexologia, das práticas de "Do-in"(é assim que se escreve?), vê-se que esta crença tem algo de verdade. ^^' Portanto, pode ser até proveitoso caminhar por pedregulhos.
Bjos, prima!
Acho que futebol e política não são tão antagonicos. A "razão" pode emergir em detrimento da paixão... como vc fez em seu txt...
***
Cazá...Cazá!!!Sport! sport! sport!
Ótimo texto. Seja bem-vindo de volta à pólis. E não preste atenção às palavras de Altiere: dá para voltar à pólis sem perder a paixão. É isso que Mouffe, no texto discutido hoje, chama de catéxis libidinal (já que você anda preocupado com a influência da psicanálise nas teorias contemporâneas).
heaiuhaeiuhieaiaeihaeuhae =)
Grazie, Cynthia. ^^
ótimo texto, hein! só peço que você não se volte completamente para assuntos restritos, como alguns teóricos, porque assim você reduz um pouco o número de leitores capazes de acompanhar as suas idéias: eu, por exemplo. mas bom mesmo! pena que fiquei esperando algumas conclusões. hehe, fácil demais, né?
beijão! vê se escreve também quando não tiver bebinho. :[]~~
"como alguns teóricos" foi exemplo de "assuntos restritos". aiaiai, falha de comunicação.
hahahaha =)
Aconselho a leitura de goffman, Pru. ^^'
Só não te mando por correio pq o texto é pesado e vai sair caro =X hahaha
E vc tem razão quanto aos teóricos e assuntos restritos. Isso é uma dificuldade de minha escrita rococó. Mas a gente aprende. ^^'
=**
texto perfeito!!!!!!!!!!!!!!!!
concordo sabe rapha, pra algumas pessoas futebol serve mesmo de pão e circo, mas não é necessariamente assim que deve ser encarado (é o tal lazer, que mari mari falou^^)
a gente precisa msm é abrir os olhos críticos e acompanhar os nossos direitos!
amo =)
saudade, tia! ^^
=*
eh o seguinte ....brasil ta um cu
portugal ta pior ainda
e eu amo rafinha xD....
Falou meu correspondente de Portugal, Lucas Rolão Tosta. ^^'
ehiuheaiuhaeuihaeaeiuhaeiaieuh
=*
Vou te falar que o ponto alto da minha semana passada foi eu entrtar no site da globo antes de ir pra aula e ver, lá no cantinho, meio escondido, SPORT 2 a 0.
Mais divertido foi imaginar todas as notícias, feitas na véspera, falando do "Corinthian na Libertadores", que a imprensa, principalmente a paulista, principalmente a globo, teve que jogar fora e, depois, correr pra escrever qualquer coisa pra sair no jornal de manhã. ;+D
E futebol é, sim, pão e circo pra muita gente...
Mas, pior do que isso, muita gente que eu conheço coloca futebol acima de muuuita coisa na vida, às vezes tudo.
Tem gente que eu vejo chegando triste, realmente triste, na escola, quando o time toma uma surra no fim de semana. Mais comum ainda é ver os que chegam PUTOS, com aquela cara de "por favor me dê uma deixa pra te chutar".
Eu olho pra isso e penso "puts, mas esse povo tem é merda na cabeça mesmo". Que total e completo distorção de prioridades, de paixões.
Aí o professor de geografia comenta na aula que a pena do Marcos Valério foi pagar dois salários mínimos e um tempo de serviço comunitário, e o mesmo cara que tava puto/triste, por causa do time, morre de rir.
Realmente, tem coisa errada...
heaiuheaiheiuuieahie =P
Um dos apontamentos pra essa coisa erada, marquitos, tem a ver com a noção de espaçop úblico e esfera pública no Brasil. Mas pra eu poder te explicar isso direito, seria bom se fosses estudante de ciencias sociais ou algo do gênero. Que é um troço meio esquisito pra quem não tem contato com essa área por pelo menos um ano. ^^"
E, tbm, podemos levantar a hipótese de que, de fato, a torcida aí seja mais apaixonada do que aqui. Por várias razões, na verdade. Uma das coisas engraçadas que houve em recife foi a aparição de milhares de torcedores do Sport nunca antes vistos. =p O futebol aqui passa por longos anos de exclusão e uma certa miséria financeira. Futebol é, também, um mercado, e dos mais excludentes. Tua região possui uma economia melhor, etc e tal. Tudo isso tem um certo peso em contratações, e, principalmente, em infra-estrutura.Sente o drama? Futebol no Brasil é realmente um troço muito polêmico. A política, também. Porém, boas problemáticas a serem levantadas: como tal 'público' reage a um e outro? há semelhanças e divergencias? QUais as condições históricas e sociais desse comportamento, e até que ponto ele se desdobra em uma ação propriamente dita? E as instituições políticas, como agem a esse respeito?
=P
Daria pra passar uma vida inteira estudando essas coisas. =p
grande abraço! ^^
"Num país como o Brasil, manter a esperança viva é em si um
ato revolucionário."(Paulo Freire )
Esse sentimento alimenta o meu "fazer pedagógico".
"Sem a curiosidade que me move, que me inquieta, que me insere na busca, não aprendo nem ensino".
Adorei o seu texto !
Beijos!
Raphinha, olha eu aqui amore!
Nossa, adorei seu texto, de verdade... engraçado que muito do que vc falou e do q foi comentado aqui já era um ponto de discussão entre pessoas que distinguem o futebol lazer do futebol fanatismo que deixam as pessoas enlouquecidas e toda essa política por trás da mídia... o NE nunca foi tão criticado em "progamas futebolísticos", os comentaristas pareciam falsos economistas com idéias mais falsas e estúpidas. chega a ser engraçado... enquanto tanta gente com conteúdo suficiente pra ter um programa na tv está perdida por aí e somos "obrigados" a ver esse tipo de comentário.
saudades
xeru ;)
Naanu
Postar um comentário