quinta-feira, 25 de junho de 2009

Quanto mais fundo tento me aventurar, mais esbarro com algo que não tem como por mim ser dito senão através do silêncio. Quero quebrar com ele, escrever um poema, gravar uma música. Mas isso é de uma ausência tal que me suga a criatividade. Me deixa perplexo diante das palavras.


Do vinho bebi a uva pisada.
Espremida, esmagada, marcada
pelos pés de seu zé ninguém.

Da água bebi coisa alguma.
Como não houvesse medida
para preencher a essência do que não é.

Nos ramos da mata, perdi o rumo.
Econtrei a parede de ar a me impedir.

Na areia, fui sugado, perdi tudo
que havia debaixo dos meus próprios pés.
No céu, fui roubado, o vento passou
e agora estou em lugar nenhum.

No dia, eu fui a sombra na luz flamejante.
Na noite, eu fui o brilho cálido do que é fugaz.

Agora, já não bebo senão meu próprio sangue
dissolvido nas palmeiras de um oásis em plena morte.
Sou invisível, por mais que eterno.
Aquilo que regozija na profunda lama do vazio.
Eu sou a ausência.

segunda-feira, 22 de junho de 2009